quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bom dia, Sueli!

Acordar ao som do despertador era a última coisa que sonhava para minha vida madura. Este pijama azul pálido com botões mais escuros chega a ser quase um atestado de óbito para tudo que pretendia viver. Quando olho para o lado, dia após dias, me deparo com Sueli. Linda. Usa sempre esse pijama amarelo desbotado que combina perfeitamente com o tom de pele.

Sueli é dez anos mais nova; quando comparada a mim. Em certos momentos, chego a sentir pena por estar casada com um homem sem tempo até para reclamar das circunstâncias diárias. Morena, alta e exatamente com três dobrinhas formosas na barriga. Nossa! Eu fico louco com as dobrinhas de Sueli! Agora ela cismou de querer fazer dieta, as mulheres cismam com coisas desnecessárias. As dobrinhas são sensuais, cansei de falar isso para ela. Eu quero mais é ficar gordo, cultivar uma bela barriga de chopp e assistir a reprise do futebol enquanto admiro, no intervalo, minha beldade cozinhando um delicioso almoço dominical.

Assim que casamos, virávamos noites conversando sobre tudo. Colocávamos um bom disco na vitrola e apenas curtíamos todas as palavras que cada um despejava na sala escura. Isto não faz muito tempo: cinco anos atrás. Susu tem que decidir se terá filhos logo, estou ficando velho e os marmanjos do meu trabalho sempre mostram as fotos na carteira. Meu sonho sempre foi ter fotos na carteira.

“Este é o João, meu caçula. Garotão... Puxou o pai! Vai ser um grande jogador de futebol, flamenguista que só ele. Esta aqui? Suzana, meu camarada. Já viu olhos mais lindos que os dela? Iguais aos da mãe. Minha patroa caprichou na Suzana. O mais velho é Tiago. Só joga vídeo game, tenho que ensiná-lo a conquistar mulheres.”

Sempre achei que teria um filho gay, não sei o motivo. Quando era mais novo, sentava no telhado da casa de minha avó e idealizava todos os meus filhos: João, Suzana e Tiago. Nunca sequer conversei com minha mulher sobre ter filhos. Assim que ela abrir os olhos, proporei uma prática (...)

Péssimo pensamento! Se ela souber que me veio à cabeça algo do tipo é capaz de cortar minha cerveja. Até que não seria má ideia; cortar minha cerveja me daria mais vontade de me impor. Sueli me domina. Adoro ser dominado. Deve ser porque fui criado só por mulheres, verdadeiro terror. Minha avó gritava feito uma bruxa velha e minha mãe quase arrancava minhas orelhas. Ainda bem que saí daquela casa assim que completei vinte anos – de mãos dadas com meio metro de sonhos, que acabei por perder no caminho.

Sueli vive me dizendo que eu tenho que voltar a falar com elas. Aliás, Sueli vive me dizendo muitas coisas. Algumas até consigo absorver, outras seguem naturalmente para o lixo mental. Esta mulher não cala a boca, acho que é seu único defeito. São raros os momentos que perco a paciência, sei me controlar. Por exemplo, nunca disse a Sueli que precisa emagrecer e comprar um pijama novo. Aliás, puta que pariu, nem sei como consigo me controlar quanto a isto!

Passei cinco anos com esta mulher e não é nem de longe o tipo que imaginei para mim: fode mal, não sabe cozinhar, ronca e cheira a produto de limpeza. Frustrações na cama até dão para suportar, afinal, sexo é sexo. Mas comer aquele arroz cheio de cebola, ouvir o ronronar nada discreto e beijar um litro de desinfetante não dá. É difícil. Sairei do casamento pronto para canonização.

Apesar de que ser santo envolve certas abdicações, e estou farto delas. Quando mais novo, escrevia listas de realizações futuras; guardei a maior: cinqüenta e oito itens. Em anos, ela não aumentou e, muito menos, diminuiu. Preciso reencontrar meu meio metro de sonho e passear com ele por aí. Só eu e ele, sem Sueli. Vou tirar o pijama azul pálido e pedir o divórcio assim que esta mulher abrir os olhos!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Carta de um descrente.

Engoli a pouca saliva que guardava na boca e, por alguns segundos, a deixei completamente seca. Fiz isso para dizer que já não quero conquistar hoje o alguém que ontem conservei, meu pulsar pede o versa e o vice, talvez o vice-versa. Não lhe culpo, nem você sabe o que está acontecendo e o que aconteceu. Eu acredito.

Quando disse que o futuro existe porque o passado não é bom o suficiente para se manter; estava buscando um sentido, qualquer um dos cinco. Aquele outubro não foi um mês, e o dia não teve tarde. Estava quente e, se paro por dois pingos dágua, sinto o que senti enquanto vesti azul e você cinza. Agora parece flor de uma noite bem dormida; em consequência de um sonho bom, que provoca na boca um rasgar confortável.

Eu estava submersa quando acordei e ainda sinto os braços líquidos e macios, alguém disse meu nome pedindo que eu pousasse no vazio do mundo, pousei. Quis chorar, quero. Dois tempos e duas razões, já não sei qual prefiro; tão diferentes em degradè. Cada quilômetro percorrido por lágrimas ralas me custou três colheres de yogurt e cada botão que desfiz foi de graça. É pleonasmo agradecer, é eufemismo só agradecer.

Calado, como quem ouve uma sinfonia, eu acredito.


sábado, 8 de agosto de 2009

Dois goles de palavrão e uma cerveja.

Quando entrei na casa de Marcelo, me deparei com Luiza e João dividindo o sofá de couro marrom e bebendo cervejas enquanto riam alto por algum motivo que não fazia questão de saber. Marcelo olhava a rua através de uma janela de madeira que se recusava a fechar nos dias mais frios do ano. Sentei na cama, deitei na cama. Marcelo já era meu amigo há 3 anos e nunca vi aquele vagabundo procurar um emprego, Marcelo recebia cheques de seus pais que viviam no Rio de Janeiro e torrava tudo em cerveja e cigarro, nem para comprar algo de boa qualidade o infeliz prestava. João é um grande filho da puta, mas apesar de tudo não posso negar que a loucura dele era o que me mantinha ali, ainda, como se fossemos irmãos de sangue. Luiza trabalha no bar do tio, recebia umas cantadas de uns bêbados fiéis e cem reais por mês. Loira e alta, ela pecava só na falta de compostura; algo que não fazia tanta diferença dentro daquele apartamento.

As risadas dos dois abafavam os resmungos de Marcelo, que continuava olhando através daquele retângulo de madeira. Não dei a mínima pra tudo que estava acontecendo na sala, já estava cansada daquela vida ridícula em Brasília. Não fomos feitos para essa merda toda, essa maldita prisão ao ar livre. Fiquei olhando o teto com infiltrações enquanto recusava a cerveja oferecida por Luiza, Marcelo enfim resolveu mudar a direção do olhar e me acompanhou, contemplando o teto manchado. Ficamos ali na cama por volta de quatro anos ou quatro minutos, não sei ao certo.

João gritou pedindo liberdade, mas não moveu nenhum músculo do rosto para tal; Luiza o apoiou e subiu no sofá com os braços erguidos buscando a lua, que naquela hora deveria estar cheirando à sushi. Quando ouvi aquelas quatro sílabas saltei da cama e quebrei um estrado, Marcelo quebrou outro e se levantou também. Acho que a solidão que o teto se encontrava naquele momento abria a porta para saírmos, fui na frente e não reparei a ordem que me seguiram. Fomos ao banco e retiramos todo dinheiro que encontramos em nossas respectivas contas. Luiza ligou pro tio, Marcelo pros pais, João pra puta que ele se apaixonara e eu liguei pra casa de Marcelo, para conferir se o teto permanecia em silêncio.

Gastando o salário mensal de garçonete com cerveja, distribuindo a quantia dos cheques fraternais para os mendigo e gastando o amor antes disperdiçado, lá estávamos os quatro no Rio de Janeiro. Luiza agora é garçonete de outro bar, Marcelo mora na casa dos pais, João se apaixonou por outra puta e eu não conheço o significado de gratidão.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Eu disse não.

Quando eu digo que não quero é pelo simples fato de querer ouvir você dizendo que quer.

Chega! Não quero mais ficar nervosa enquanto os pássaros cantam olhando o sol do meio dia; isso me deixa triste, mas não posso deixar que o vento note. Você me segura com força querendo impedir que eu vá, mas suas mãos só me fazem sentir dor quando querem mostrar carinho. Não consigo mais pedir desculpas, já não me acho tão errada. O certo e o errado já não são tão antagônicos, costumava achar bonito ver os dois se tangenciando.

Agora estão todos conversando e só eu ainda sinto no corpo a fraqueza e dor, não, por favor, não me deixe acreditar mais uma vez que a culpa é toda minha. Só queria dividir tudo isso da forma mais egoísta possível. Será que você não percebe? Somos um formando dois, e só conseguimos sentir cheiro de flor. Me deixe ir enquanto o mar está calmo. Cale a boca, guarde suas palavras em uma caixa confortável.

Quando puder ouvir tudo que um dia tentei gritar, finja não entender; eu só queria um pouco de conforto em minha caixa de palavras. Não tenho todas as respostas para as perguntas que criei, mas tenho todas as perguntas esperando as respostas. Me procure quando quiser, mas me deixe ir! Eu preciso ir. Parem de me olhar assim: como se não me conhecessem. Sim, fui eu que bebi na noite de quarta-feira enquanto você juntava as mãos e rezava. Sim, fui eu, somente eu.

Se eu disser que não quero mais há de ter uma razão: estou vendo o limite.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Prefiro

Prefiro os peixes e não os cães
Pois não me lambem quando chego em casa
Pois não me dão carinho quando chego em casa
Prefiro os peixes e não os cães

Prefiro os peixes e não os gatos
Pois não se enroscam em minhas pernas no frio
Pois não querem dormir comigo no frio
Prefiro os peixes e não os gatos

Prefiro os homens e não os peixes
Pois me dão carinho quando chego em casa
Pois querem dormir comigo no frio
Prefiro os homens e não os peixes

sábado, 27 de junho de 2009

Nada muito diferente - II.


Caminhava na Mathew Street, tentando não respirar o ar europeu, apesar de tudo sentia falta do Brasil. O sol permanece em silêncio, assim como eu, aguardando seu momento de estrelato. Caminho na Mathew Street sobre paralelepípedos uniformes, tentando não pisar no chão. Tudo parece frio demais ao corpo e quente demais aos olhos. Sinto-me um pouco desorientada, sem saber o leste e o oeste. Sinto alguém me seguindo, não quero olhar para trás.


Como fui parar em Liverpool? De onde eu surgi? Sento ao lado de Eleanor Rigby, materializada em bronze, e fico fitando meus sapatos vermelhos; passo a mão no rosto tentando buscar a consciência (em vão). Nada parece muito real quando não se tem com quem compartilhar; tentei falar com Eleanor:


" - Você era a senhora da lápide ou a menina de 14 anos faxineira no City Hospital, de Parkhill?"


Tento ouvir Eleanor respondendo, juro que tentei, mas ela parece estar fitando meus sapatos vermelhos. All the lonely people observam tudo quando tudo não as observa. Fecho os olhos diminuindo um pouco da ardência e causando sensação de conforto, deixo, lentamente, a cabeça tomar o rumo; inclinada para a esquerda e levemente puxada por um ímã no chão.


Acordo meio zonza e demoro a me acostumar com a luz natural, minhas roupas estão úmidas em consequência ao sereno. Agora tudo é passado. Andei pela Mathew Street procurando qualquer lugar para forrar o estômago com dois goles de café gratuitamente. Não sei como, mas me lembrei de um Paul, que trabalhava no The Grapes Hotel, e tive a flutuante impressão de que éramos amigos. Assim que entrei no Grapes senti um puxão no braço e um menino-homem, aparentando ter 24 anos, começou a falar euforicamente com tom de nervoso:


" - Porra, Julia, onde você se meteu noite passada? Estava louco tentando te ligar, conseguimos um show para sexta!"


Não respondi, apenas tentei juntar as sobrancelhas. Dúvidas abriram a porta rapidamente: uma delas queria saber como o garoto de olhos verdes e cabelo castanho cacheado sabia meu nome; a segunda tentava entender como o mesmo tinha meu número de telefone; a terceira ficava lutando para saber sobre que show ele estava falando; e a quarta, porém não menos crucial, pocurava arduamente se lembrar que dia da semana era. Os olhos verdes se reviraram em polvorosos, contrastando meus olhos castanhos um tanto quanto mortos e pesados.


"- Ah! Já entendi, você tomou Old Eigth denovo. Não adianta, por mais que já esteja claro que você perde os sentidos, a memória e tudo aquilo que se pode perder... você continua tomando essa merda. Oi, sou Paul. Temos uma banda, The What, sou guitarrista e você vocal. Hora de viver!"


Fora então que lembrei de tudo. Eu morava em Liverpool, moro, havia me mudado fazia dois anos para trabalhar como jornalista no Liverpool Daily Post, jornal local. Conheci Paul no The Cavern Club e fiquei julgando a obsessão por The Beatles de todos, até que ele me disse que o nome dele era em homenagem ao McCartney. The What, nossa "banda". Ainda estávamos procurando qualquer baterista e, também, qualquer, qualquer mesmo, baixista. Lembrei do quão ruim era o nome da nossa banda, tentando fazer um trocadilho imbecil com The Who. Só Paul levava com seriedade aquela brincadeira de acordes. Agora tudo é presente.


Tomo uns goles de café gratuitamente e vou para casa tomar banho. Tolice a minha ter achado que ontem era minha primeira noite em Liverpool; logo agora, que começa a ter mais rotina do que café no meu copo.


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Nada muito diferente.

O letreiro vermelho luminoso me lembrava os motéis baratos do Brasil, de fato, não eram lembranças agradáveis. Já que estava lá, parada com meu vestido preto de bolinhas, nada muito anos 60, e meia calça, às 10pm; resolvi não deixar o passado tomar decisões e entrei. The Cavern Club. A única exigência era não encontrar espelho no teto; de resto, tudo seria lucro para a primeira noite em Liverpool.


Contrariando pensamentos previsíveis, eu não havia viajado para a cidade impulsionada por meus comprimidos diários dos Beatles; estava lá sem querer. Depois de uns infinitos goles só estava descabelada, com cinquenta libras entre meu seio esquerdo e o sutiã, e em Liverpool! Saldo positivo para uma noite de outono.

Lugar aconchegante,quadro andares abaixo ao solo, de tijolos e teto sem espelho; porém arredondado. Eu conseguia sentir o aroma de jazz na parede, mesmo estando claro que tudo é puro rock'nroll. Todas as pessoas, sem distinção de sexo e bebida, pareciam já ter lido a biografia de John Lenon. Me senti deslocada; nunca tive sequer a vontade de ter paciência para ler sobre a vida do João; 'brasileiramente' falando. Resolvi, ou minhas pernas resolveram por mim, sentar. A mesa tinha lugar para mais duas pessoas e, naquele momento, só tinha um amigo imaginário. Por isso o matei, ia ficar muito óbvio que tinha poucos amigos.

Havia um guitarra saltitando ao fundo todas as vezes que a bateria mandava, contrastando com a falta de originalidade daqueles que a sentiam/ouviam/viam/ignoravam. Meus ombros começaram a ficar descompassados, enquanto um ia para frente, o outro direcionava-se para trás; no ritmo da louca música de UK. Não vou mentir, aquilo tudo era bem melhor do que o Google poderia me oferecer.

Longe, avistei um homem de blusa social branca tentando se esconder atrás do colete preto. Segurava o copo de cerveja como se fosse o último diamante da noite, nunca gostei muito de diamantes e cerveja. Ele olhava compenetrado para o teto se agitando e gritando, da forma mais fiel que o gerúndio possa se expressar. Fiquei com inveja e saí daquela caverna.

Beijei de forma intensa o João de bronze, e coloquei o resto do dinheiro em outro sutiã bêbado.


Selo

Agradecer o blog http://www.indio-indie.blogspot.com/ pela indicação do selo.
Ctrl c + Ctrl v = "Este selo é para blogs que 'demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos leitores'.

Regras:
1 - O premiado deverá expor o selo no seu blog e atribuí-lo a sete outros blogs que considere merecedores.
2 - O premiado deverá responder à seguinte pergunta: O que significa para si ser um Homo sapiens?"

1- Os blogs que estão no canto esquerdo da tela são merecedores.
2- Para falar a verdade, não significa muita coisa palpável. Até agora eu estou gostando.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Meia vinte e sete.

Texto baseado em fatos reais.

Saiu de casa e fez o sinal da cruz com a mão direita, enquanto mantinha em suas costas uma porta fechada. O clima era dispensável. Se estivesse chovendo, iria sem guarda-chuva. Se chovesse no caminho, não voltaria para buscar o guarda-chuva. Se estivesse sol, nem lembraria do guarda-chuva. Vestindo sua calça capri marrom e blusa laranja, uma senhora de oitenta e dois anos ia caminhando em passos de formiga caminhos de elefante.

Todo dia era a mesma coisa. Acordava, arrumava o quarto alugado e se aprontava para almoçar fora. O restaurante é mais conhecido no mundo, Maracanã. Lamúrias por conta de aborrecimentos com a cunhada, dona do quarto que alugava. Não havia se casado, não havia procriado; não se lamuriava por isto. Vestindo sua calça capri marrom e blusa laranja, uma senhora de oitenta e dois anos ia tentando não ligar para os gigantes e viver o constante.

Pegou o meia vinte e sete rumo a praça Sans Peña. Após uma curva brusca na Rodovia Marechal Rondon, decidiu se resguardar em um lugar ao lado da janela. Com alguns fios brancos no queixo, a pequena senhora cerrava os olhos enrugados desviando-se do vento. O banco faz parte do enredo cotidiano, a praça torna-se abrigo para o restaurante dos finais de semana. Vestindo sua calça capri marrom e blusa laranja, uma senhora de oitenta e dois anos ia driblando as vinte e quatro horas diárias com a solidão na cidade grande.

Cachoeira visitou no Alto da Boa Vista; sem ter certeza se estava sozinha ou acompanhada pelo invisível, não se importava. Manter-se em atividade é regra vitalícia. Não, ela não queria acordar por acordar. Escolheu não se casar. Escolheu não se lembrar. Escolheu fechar a porta e fazer o sinal da cruz com a mão direita. Vestindo sua calça capri marrom e blusa laranja, uma senhora de oitenta e dois anos contava seus dias rosados para ouvidos ainda verdes.

Saí de casa e fiz o sinal da cruz com a mão direita, enquanto mantinha em minhas costas mais uma porta fechada.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Adultério.

Acordei com dor de cabeça. O sol estava queimando tudo que encontrava em sua frente. Meus olhos ainda estavam embaralhando e minha roupa ainda mostrava resquícios da noite passada. Olhei para o lado e vi, enterrado no travesseiro e quase coberto com um fino lençol branco, o mais bonito rosto moreno que possa existir entre o céu e o mar. Lembro-me da noite passada, quero tudo agora pela manhã mais uma vez, com um pouco mais de intensidade. O sol estava pedindo mais intensidade, ele suplicava.

Liguei para Leonardo e Denis, amigos de adolescência que sempre sorriem após qualquer proposta. Gosto de idéias que não mostram nexo aparente seguidas de um sorriso largo e malicioso. Leonardo estava namorando por longos oito anos e não queria nem ouvir falar sobre noivado e casamento; Denis era só um garoto na puberdade dos trinta anos. Antes, durante e depois, dessa vez precisava ir até o fim!

Avistei a casa que exalava um calor doce, pude sentir de longe, sentimos. "Nunca é cedo para algumas doses de Whisky e outros drinks, nunca é cedo para entrar no sublime estado de embriaguez" Como já dizia o velho poeta inventado. Incontáveis mulheres de rostos redondos, outras compartilhavam rostos finos. Rostos; todos eles me olhavam sem pudor enquanto tentavam, sem persuasão, enxugar o excesso de sensualidade que estava escorrendo. Certos atos julgavam a si próprios como vulgares. Comecei a ferver por dentro, suava levemente; tudo começava a ficar bem mais sério.

Lembro-me de Joana, aquela de rosto moreno tão incomum, a deixei na cama há algumas horas atrás. O que estava acontecendo comigo? Seria eu mais adultero em um mundo falso moralista; estava gostando disso, ao menos da idéia de ser um.

Agora a garota de rosto fino, suave e claro estava me atormentando, tirando toda a minha paz; se é que um dia já a tive. É sensacional o jeito como ela parece saber como levar essa louca dança imprevisível; quando os movimentos pendem para a lateral, fico tonto, entorpecido. Não me responsabilizo mais por qualquer comando enviado por meu cérebro, desligo a consciência, me entrego à ciência desconhecida.

Vejo-a deste ângulo inferior e percebo o quanto ela é bonita. Joana é a última de minhas mais remotas lembranças que estão se apagando suspiro por suspiro. Antes, durante e depois; dessa vez eu precisei ir até o fim. Ela está tão próxima agora, seu peito feminino encosta em meu peito masculino; seguro-a como se quisesse impedir uma fuga. Meus olhos estão secos e pulsantes, meus olhos estavam secos e pulsantes. Sentimento umidecido de culpa e prazer.

Definitivamente não passo de um adultero em meio da multidão da fictícia conservação, gosto disso.








(Inspiração peculiar : música 'Aldultério' de Mr. Catra http://vagalume.uol.com.br/mr-catra/adulterio.html)

domingo, 19 de abril de 2009

Hora de mudar, ou não.

Todas as vezes que olho para a rua vazia e iluminada artificialmente me dá vontade de gritar. E assim fiz, grito, gritei até que minhas cordas vocais começassem a pedir silêncio. Voltei para casa. Acendo alguns cigarros e os deixo queimando sozinhos, gosto de vê-los em solidão conjunta se desfazendo. Só fumo porque combina com café.

Me afoguei na cama e fito o teto pálido, tremo de calor e sinto meu coração no ritmo de Heart in cage. Cada segundo que passa eu derramo mais e mais adrenalina que não cabe mais em meu corpo. Pego a garrafa que está debaixo da cama, só quero beber o resto da vodka. Essa noite vou queimar todas as crianças que ainda persistem dentro de mim. O barulho do fogo está alto, e eu canto junto sem prestar atenção no que digo, já não importa. Meu quarto está em chamas! Eu me sinto melhor quando estou no fundo do poço, acredite. Tudo soa bem agradável depois.

Caminho com os olhos cerrados até o banheiro e só os abro depois de lavá-los na pia branca. Encarar o vazio do globo ocular é excitante, fiquei mais quente ainda. Tem alguém batendo na porta, escuto de longe; havia alguém esmurrando a porta, senti de longe. Lara, com certeza.

Porra, já falei para essa garota sair do meu pé.

Olhei para a porta e imaginei Lara,vestida com aquele jeans surrado e camisa branca lisa, esboçando um sorriso inocente e apertando os olhos com malicia. Ela só quer um pouco mais de diversão, mas odeio dividir meus ecstasy pessoal. Que horas são? Abri a porta, não há ninguém. O corredor verde musgo é deprimente, quando volto a visão para o apartamento vejo as paredes escorrendo e o chão borbulhando. A fumaça e o calor está me sufocando.

Que horas são?

sexta-feira, 27 de março de 2009

London

Luz baixa e três dedos de Gold Label com quatro pedras de gelo. Cruzar as pernas apoiando a palma da mão esquerda na perna direita,deixando escorrer todo o castanho que tenho ao te olhar, é o máximo que posso fazer depois das onze da noite. Agora faltava menos de uma hora. O copo transpirava toda vez que sua sobrancelha conduzia seu campo de visão para o meu vestido branco tão incomum naquela noite. A meia calça fina e o longo casaco cinza de vison esquentavam-me do frio da estação, mesmo eu não precisando. Dois goles descem, curtindo todo o percurso que os teus passos fazem.

Mão quente desce pelo braço direito e luz baixa, o que me faz arrepiar por completo. Castanhos são os mais charmosos; sempre chego a esta conclusão, mas a esqueço com freqüência. O piano expirava Muddy Waters impedindo que o silêncio fizesse sua parte e fosse interrompido previsivelmente com: “Good evening, posso me sentar ao seu lado?”. Foi impossível negar algo tão simples ao tenor mais sedutor que já havia ouvido em vinte e sete anos.

Umedecer o batom vermelho me deixou mais confiante enquanto prestava atenção em cada palavra britânica que flutuava em minha direção. O Gold Label combinava perfeitamente com a ocasião, Jhonnie Walker devia estar orgulhoso de nós. Percebia o olhar se desviando dos meus olhos e descendo devagar por todo o meu rosto, chegando ao decote e voltando rapidamente ao castanho brilhante, sorri com os lábios cerrados.

Agora faltava menos de meia hora para os fogos ensurdecerem todos os ouvidos. Fui conduzida pela mão até as escadas. Subi sem conseguir imaginar o que tinha depois de algumas dezenas de degraus. Um terraço completamente vazio.

domingo, 15 de março de 2009

Aconteceu quando não aconteceu.

É tão bonito te ver ao vento, parece que seu corpo pastosamente está se arrastando calado para bem longe de mim. Ficaria horas vendo o vento ventar e levar enquanto vejo você devagar me deixar no silêncio do fim de tarde daquele farol. Isso me faz lembrar que sempre precisei um pouco de atenção quando as poeiras começam a se esconder nos cantos, deixando que eu me esqueça o quanto estava sujo.

É tão lindo te ver ao vento, me deixando e me deixando te ver ao vento. O eco da minha voz é guiado para sul e só eu o escuto. Fico horas te olhando partir e partir ao meio tudo que estava por inteiro até então. Esse é o nosso mundo, aprecio ele se transformando em: esse é meu mundo. Vamos lá, suma devagar, demore horas; a cada hora que passa envelhecemos dez semanas. Sua pele jovem concebendo rugas e sorrisos de nostalgia me fazem admirar cada vez mais você me deixando no seu norte.

É maravilhoso te ver ao vento. Eu odeio te deixar ir assim, não se vá. Vento, me leve pra qualquer lugar. Só quero acordar amanhã do seu lado, não se vá. É lindo te ver ao vento, me deixando e me deixando. Foi tão bonito te ver ao vento. Tive medo e não consegui dormir, não se vá, vou, vão, vamos, vai, fostes e irá.

Olhe para mim, agora sou só uma marca na areia em frente ao farol, estou construindo sonhos numa terra de estranhos, conte-me porque devo me preocupar. O vento que venta pro sul, volta pro norte, volte enquanto há apenas nós dois. Toda vez que ventar em direções sulistas irei junto; conte-me aonde nós vamos, daqui para onde partiremos; diga-me! Você ainda consegue me ouvir? Diga-me!

Selo


Gostaria de agradecer ao blog Casa do Besouso (http://casadobesouro.blogspot.com/) pelo selo. É muito bom saber que tem gente que gosta e indica o Falando sozinha.
Além de demorar pra postar o selo, eu acho que vou quebrar algumas regras, ou melhor, uma regra. A terceira dizia para indicar 10 blogs ao selo, mas prefiro indicar dois que realmente pensam do que indicar 10 só para fazer número.
Bem, meus indicados são:
REGRAS:
1ºExiba a imagem do Manifesto e explique do que se trata
2º Poste o link do blog que te indicou
3º Indique 10 blogs de sua preferência para fazer parte dos 'Jovens que Pensam'
4ºAvise seus indicados
5 ºPublique as regras
6ºConfira se os blogs indicados repassaram a imagem e as regras!
Obrigada mais uma vez, Casa do Besouro.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Versão de Maria

Último dia de setenta e três anos.

Sentei na poltrona desbotada que se encontrava no canto da sala, como sempre fiz durante um bom tempo, as memória me vieram com toda força, me assustei, sempre ouvi dizer que isso aconteceria, mas nunca achei que fosse verdade.

A saudade que apertava meu coração me fez lembrar daquele dia na praça, nos anos 50, quando conheci Antonio, alto, moreno, com aquela roupa branca encantadora.
Sentado do outro lado da praça roubava meus olhares, não conseguia parar de olhar para tal jovem, quando me vi, ele estava estendido ao meu lado, segurando um pacote de pipocas, tentei disfarçar com um sorriso, acho que ele nem chegou a perceber como me encontrava sem graça.

Comi pipoca após pipoca silenciosamente, não sabia o que falar, e ele me parecia estar esperando algumas palavras minha. Levantei e resolvi, enfim, falar meu nome “Maria”. Ele não disse nada, parecia não entender o porquê eu estava me apresentando, aguardei ele dizer algo, sorri novamente, estava sem graça mais uma vez, saí dali o mais rápido que pude.

Passei o dia me remoendo a vergonha, já havia visto aquele rapaz outras vezes na praça, resolvi voltar à noite, tinha a esperança que o veria novamente, pensei em algumas frases para falar na hora que o encontrasse. Assim que cheguei à praça, deixei que meus olhos se perdessem a procura dele, quando em um susto, ele aparece na minha frente e ouço “Antonio”. Ele me olhava nos olhos, e como de costume fiquei sem graça, sorri, mas não ia deixar que aquele encontro se passasse sem falas novamente, respirei fundo com todo ar que meu pulmão pudesse resgatar, e o conduzi pela mão até o banco mais próximo, naquele momento, as frases ensaiadas sumiram, tive que improvisar e driblar a falta de jeito; consegui durante toda a noite.

E assim, por meses, encontrava Antonio na praça, dias e noites. Certa manhã, assim que acordei, sentia-me com um frio na barriga diferente, me encaminhei até a praça, e Antonio me surpreendeu com um pedido, não me contive, meus olhos se encheram de lágrimas involuntariamente, era o que mais queria, sorri, mas não porque estava sem graça dessa vez, sorri com a felicidade que borbulhava em todo meu corpo.

Compramos uma casa azul, em frente à praça, tivemos dois filhos, Julia, a caçula, que está grávida novamente, e Bernardo, que junto com sua bela esposa havia me dado um grande presente uma dúzia de anos atrás, dois netos lindos, Luis e Gabriel, gêmeos. Antonio tinha câncer no pulmão, devido ao charuto; sentado na mesma poltrona que me encontrava, quando silêncio habitou a sala, trocamos olhares e sorri com delicadeza, foi o começo de anos vazios. Acabei perdendo-me em tristezas, a poltrona era minha companheira mais constante, as crianças já haviam crescido, e meus netos só me visitavam nos fins de semana.

Abri os olhos, e olhando para o lado, percebi a fresta na janela que deixava o sol entrar lentamente, pela primeira vez não me sentia sozinha, parecia que Antonio estava comigo novamente; uma confortante sensação, sorrir com todo meu amor era pouco: a última coisa da qual me lembro, tudo foi lentamente desaparecendo.

Selo



Gostaria de agradecer ao Felipe, do blog 'Na mira do Felipe' (http://namiradofelipe.blogspot.com/), pelo selo.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval

A Escola de Samba Beija-Flor aborda no carnaval de 2009 temas relacionados à prática do banho e seus benefícios, assim como os malefícios durante a ausencia do mesmo. Carros com micróbios representados como macróbios, chafariz e cachoeiras. Foram utilizados 5 mil litros de água para o desfile. Irônico é dizer que no bairro ao lado, Bangu, moradores clamam a atenção da SEDAI em um coro com vozes infantis e maduras.

É difícil dizer o real sentimento pelo carnaval, lógico que como carioca eu participo de toda euforia que o samba provoca, mas como indivíduo com um certo senso critíco ainda me permito pensar sobre questões que acontecem no feriado festivo. O exagero é elogiado, parece que por 4 dias a beleza se resume em abundancia.

O nome vindo da expressão "carne vale", o carnaval, onde a carne de nada vale, vem sendo festejado geração após geração. Aprecio a simplicidade das marchinhas do carnaval de rua, os enredos que antes eram feitos com amor e riqueza cultural. Ano após ano a maior festa, não só do Rio de Janeiro, vem se rendendo, cada vez mais, ao que chamo de produto negativo da mídia.

Quando ninguém é de ninguém, mulheres com coxas torneadas sambam em cima de saltos finos com 15 cm e mostram seu corpo na festa da carne. Parece que todos se esquecem que Rio de Janeiro não é Brasil. A Sapucaí é, de fato, uma grande festa, mas ao contrário do que muitos pensam e propagam, não é a maior do Brasil. Salvador ganha disparado do Rio de Janeiro, chega a ser ridículo como nos fazem acreditar que o Rio de Janeiro é o berço do Carnaval.

Não aguento mais gostosas rebolando e famosas sendo rainhas quando nem sabem sambar. Em um mundo onde deveríamos evoluir, percebo em vários aspectos que só retrocedemos. O resgate do bom e velho carnaval é fundamental. Chega de abundancia quando poucos vivem a mesma realidade. O engraçado é que são comunidades carentes que gastam fortunas com o desfile aqui no Rio de Janeiro. Respeito e partilho o amor pelo samba, mas tudo tem limites.

Agradeço as Escolas de Samba que são a exceção e utilizam materiais recicláveis na produção de seus carros, e, principalemente, utilizam da mídia como forma de propagar idéias positivas, pena que quase ninguém preste atenção nas letras.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Confusão mental.

Não me chame de louco por afogar flores em lágrimas. Gotas de pétalas e lágrima de flores. Gotas de Lírio vindas do seio em forma de leite. Chame-me de louco por afogar flores em água ou gotejá-las em águas afogadas. Chame-me de louco, vai.

Não me chame de louco por tomar banho com minha melhor roupa. Desabotoar botões um por um é tão só quando feito por mãos conhecidas. Quero desconhecer o desconhecido e banhar-me desabotoando cada pingo do chuveiro que cai do botão. Chame-me de louco, eu gosto.

Não me chame de louco por ser maestro da chuva. Apavorando os apavorados com tenores naturais e guiando o não guiado pela melodia de cada mililitro que cai da imensidão cinza. Brilho que acaricia a terra antes acariciada pela carícia de pés rudes. Molho o que antes estava seco querendo secar o que depois estava molhado na orquestra chuvosa. Chame-me de louco, quero ouvi-lo, enfim, me chamando de louco.

Deixe que meus tímpanos estremeçam, permita-se gritar enquanto me chama de louco. Chame-me do que você quiser, mas não me chame de louco só porque pedi.

Por favor, me chame de louco.

Selo


Gostaria de agradecer o selo indicado pelo blog Casa do Besouro (http://casadobesouro.blogspot.com).
Regras:
1) Exibir a imagem do selo "Seu blog é ROXIE!" e escrever essas regras abaixo dele.
2) Colocar quem te deu o selo nos seus blogs indicados (amigos).
3) Escrever 5 coisas que são ROXIE (1ª sobre música, 2ª sobre televisão e cinema, 3ª três países que gostaria de conhecer, 4ª três cores favoritas e 5ª três Hobies)
4) Indicar 10 blogs que você ache ROXIE.
5) Avise a pessoa (claro néé)
---
1- The Beatles e Cazuza.
2- Não sei.
3- Cabo Verde, Cuba e Hawaii.
4- Azul, branco e verde.
5- Dormir escutando música, ler e tocar violão.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Gostos e não desgostos

Gosto dos que não bocejam, dos que sentem sede e são saciados por gotas de vivências, dos que dizem não quando seria sensato dizer sim e dizem sim quando o óbvio ligava-se ao não, dos que são simples entre goles de vinho tinto e dos que não tentam ser o que gosto.

Gosto das manhãs que exalam maresia, das tardes que preenchem o dia e das noites que superam expectativas. Manhãs que acolhem, tardes que curtem e noites que dispedem-se.

Gosto de saber que meu gosto pouco lhe intressa, pouco lhe faz diferença, pouco lhe acrescenta. Gosto de saber que tudo que antes achei que fosse se desfez deixando dúvidas. Até do escuro que trouxe atos, dos goles que trouxeram conversas, da falta de memórias que provocou revolta, das desculpas ditas e não entendidas; até dessas eu gosto.

Gosto de parecer não estar aqui, não estar aí e não estar lá. As vezes que fingi não ligar, fingi não gostar e fingi achar, gosto delas também.

Você gosta? Gostou? Ao menos, fingiu não desgostar?

Gosto de tudo, desgosto de nada.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

All my loving.

Feche os olhos, gosto de te ver sem saber o que acontece ao seu redor. Seu rosto esboça ingenuidade, seus olhos ficam levemente puxados e sua boca apresenta um sorriso convidativo. Beijo-te e faço a ingenuidade sumir da face. Tu bem sabes o que ocorre ao seu redor: o calor, os braços, as mãos, a respiração, o suspiro. Tu bem sabes o que ocorre ao nosso redor.

Amanhã vou sentir sua falta. Partir não parece uma boa idéia diante das circunstâncias, o céu está nublado e o vento parece apenas caminhar, gostaria de o ver correndo. Os dias amanhecerão ao som de lembranças. Lembre-se que sempre serei verdadeiro, mesmo mentiras proverão da mais pura sinceridade que se encontra em mim.

E quando eu estiver longe, não se preocupe, meus pensamentos não serão capazes de deixar de seguir sua linha, ao menos tangenciarem. Vou te escrever todo dia; manhãs, tardes e noites. Enviar-lhe palavras é, de fato, o mínimo que posso fazer. Palavras essas que irão mandar todo meu amor pra você.

Nas noites de lua cheia e céu estrelado vou fingir que estou beijando os lábios dos quais sinto falta. Nas noites em que o céu não passar de um embaço cinza e negro vou fingir que estou beijando os lábios dos quais sinto falta. E torcer pra meus sonhos virarem realidade, nada além de torcer.


All my loving I will send to you.

Selo

Segundo selo.
Agradeço ao blog Casa do Besouro(ww.casadobesouro.blogspot.com) pela indicação, fico feliz.
O selo vem acompanhado com uma série de regras.:
1- Exiba a imagem do selo “Olha Que Blog Maneiro” Que você acabou de ganhar!!!
2- Poste o link do blog que te indicou.(muito importante!!!)
3- Indique 10 blogs de sua preferência;
4- Avise seus indicados;
5- Publique as regras;
6- Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras
7- Envie sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com juntamente com os 10 links dos blogs indicados para verificação. Caso os blogs tenham repassado o selo e as regras corretamente, dentro de alguns dias você receberá 1 caricatura em P&B !
10 blogs para indicação:
Dez é uma quantidade tão grande.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Geração Beat

Dia desses citaram a Geração Beat.



Os créditos sempre vão para os hippies, pois começaram a se portar de maneira diferente do senso comum, são eles os reconhecidos pela massa; mas a notoriedade precisa ser dada a quem de direito: Beat Generation.

Assim que a Segunda Guerra Mundial se deu por fim, o Estados tão Unidos da América se lotou de ufanismo; em meio ao caos da hipocrisia, jovens desencantaram-se com a realidade então apresentada e, literalmente, saíram pelo mundo em busca de novas e diferentes. Anos 50, do 'macaco de Marte' ao folk, que agora está em alta novamente. Anos 50, quando o New York Times publicou uma matéria sobre um estudo revelando que a televisão está mudando a maneira como a sociedade norte-americana encara o lazer, a política, a leitura e se expressa culturalmente. Anos 5o, quando surgiu a tal geração beat.

Neoboêmios hedonistas; Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William S. Burroughs e outros, começaram a escrever suas histórias no final dos anos 50 e começo dos anos 60. Os ouvidos eram habitados pelo jazz e as idéias eram de não-conformidade e criatividade espontanea. Definir o termo 'beat' no contexto é, de fato, algo complicado; cada autor resolveu usá-lo de maneira pessoal.

Não estou querendo tirar a glória dos hippies, mas me atrevo em afirmar que sem os autores da beat generation o movimento não teria a mesma percussão. On the road, que fiz questão de comprar ontem, transmite de forma plena todo o pensamento do movimento. Poucos comentam de Kerouac e de Ginsberg, depois de ler a história de ambos, me senti obrigada de forma moral em dar reconhecimento aos dois e a tantos outros.

"A chave de tudo foi o tédio" - Hal Chase

Hippies inovadores? Apenas seguidores.

Selo

Pela primeira vez recebi um selo.

Gostaria de agradecer a Nati Valarini do blog Garota Pendurada (http://www.garotapendurada.blogspot.com/) pela indicação.

Como quase tudo, existem as regras:

-Listar as próprias regras;
-Listar suas cinco obsessões, apegos ou manias.

E como manda o figurino, devo segui-las.

Lista de cinco obsessões, apegos ou manias:
- Quando vejo algo que, do meu referencial, parece errado tendo à reclamar e parecer moralista;
- Coleciono a revista 'FLUIR' desde 2005;
- Escuto pelo menos uma vez ao dia a música 'Please Mr. Postman' dos Beatles;
- Sou louca por coisas antigas principalmente dos anos 60, 70 e 80;
- Converso em inglês com o espelho sobre assuntos que vão de corte de cabelos à crise mundial.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sobre 4 rodas.

Era hora de pôr em prática todos os planos antes planejados. O sol estava brilhando entre as nuvens e o vento servia como mais um impulso. As malas estavam prontas fazia um tempo. Não dormi pensando que aquele seria o dia, mas assim que abri os olhos percebi que havia chegado o momento. Peguei as malas, a chave do carro e saí, deixando apenas um bilhete que dizia: “Não se preocupe!”, mesmo sabendo que seria impossível pedir pela ausência da preocupação.

Já tinha 20 anos, no quarto período da faculdade de ciências sociais, que tranquei. Do lado de fora da minha bolha, parecia o mundo perfeito, mas, do lado de dentro, eu sentia que estava faltando algo. As manhãs amanheciam do mesmo jeito, as tarde se prolongavam e a única coisa que saía da rotina eram as noites, embora fato de sair da rotina sempre se tornou rotineiro.

Liguei o fusca que havia ganhado uma semana antes. Era exatamente como pedira: bicolor, modelo de 1968, do ano que não terminou, da Primavera de Praga, na antiga Tchecoslováquia, à decretação do AI-5, no fervor do Brasil. Aquele carro carregava consigo um ar de várias histórias percorridas e eu estava querendo fazer mais uma, duas, três, quatro, quantas fossem possíveis.

Ouvia muitas pessoas dizendo entre goles de café e destilados sobre percorrer o mundo, mas colocavam a culpa na falta de capital; percorrer a Europa, não tinha justificativa para lá, não economizavam elogios para o metrô, para a estrutura e tudo que todos sabem que o continente possui; e por fim, percorrer a América Latina, mas a falta de tempo atrapalhava. Chega um momento que cansamos de ouvir ou concordar, e decidimos fazer.

Comprei um caderno uns quatro meses atrás, que agora estava cheio. Na capa, 'Sobre 4 rodas' , no interior, lugares e mais lugares preenchiam as páginas. Parecia um caderno de uma criança de dez anos, com colagens e anotações. O que o diferenciava de um caderno infantil é que tudo iria vir a acontecer e sairia daquelas páginas bagunçadas.

Partindo do Rio de Janeiro já estava decidido seguir para o sul pela costa verde. Não sei bem o motivo de começar por baixo, acho que é mania. Coloquei umas músicas novas no mp3, para, talvez, combinar com minha nova fase e emudecer o silêncio da viagem. Preferiria não estar indo sozinha rodar o Brasil.

Passei um bom tempo convidando amigos para me acompanharem pelo Brasil, mas todos só sabiam achar obstáculos. Ao invés de colocarem a culpa em suas próprias inseguranças, os culpados eram: a faculdade, família, o estágio, dinheiro, namorado; já estava cansada de ouvir os argumentos fracos e comuns. Demorei pra me dar conta que se ficasse esperando alguém no banco ao lado não iria tão cedo. Mas por fim, me dei conta e comecei a por em prática a página um do caderno naquele dia em que o sol brilhava entre as nuvens e o vento servia como impulso.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Ecocapitalismo.

"Isso é culpa do capitalismo sujo!"

O alvo de minhas maiores críticas é, de fato, o capitalismo e seu consumismo agregado; negar que consumo, é mentira, impossível é viver sem consumir. Só para ter uma idéia de como este ato é presente, eu falei: consumo, cosumismo e consumir na mesma frase e bem próximo.

Cada ser tem sua dose de consumo, uns bebem em dose dupla, outros não ingerem nem uma dose até o fim; talvez por falta do retangulo de papel ou até mesmo, na melhor das hipoteses, por consciencia. Em dias em que o sol amanhece evaporando águas e as horas passam subindo e descendo ações; o que não faltou falar/ouvir foi do tal consumo consciente.

"Será que o capitalismo vai cair?"

Claro que não, chegamos ao patamar mais elevado, descer tudo para alguns é andar pra trás, perder tempo ou até mesmo burrice. Pra mim é exagero. De fato, não é necessário descer todos os degraus, voltarmos a estaca zero, botarmos fogo em shoppings, tomarmos banho de canequinha ou vivermos à luz de velas. Pelo menos não ainda. Tudo bem, não vamos descer degraus, que tal construir um deck?

Hoje, utilizamos de 25% mais recursos naturais do que a capacidade de renovação da Terra, se os padrões continuarem no mesmo patamar, em menos de meio século serão necessários dois planetas como o que vivemos para suprir todas as nossas necessidades de energia, alimento e água; e creio que só exista um desse.

O capitalismo está na água em que bebemos, na roupa em que vestimos... em nossas vidas, da hora que acordamos à hora que vamos dormir. Quer ser radical? Largar o Capitalismo? Ótimo, ande nu, coma com as mãos e vá a pé para todos os lugares, eu disse todos. Se é pra ser radical, que sejamos radicais. Mas infelizmente, ou felizmente, não dá para adotar tal postura na sociedade que nos encontramos. Quer sair do capitalismo sujo? Entre no deck, o ecocapitalismo.

Consumo consciente se tornou nossa melhor, e única, alternativa para não sermos empurrados até o último degrau novamente.

Não vá pensar que para consumir consciente só basta apagar a luz quando deixar o local, fechar a torneira quando não está em uso ou andar de transporte público. Vai muito além, 'a consciência tem um preço, o qual nem todo mundo concorda em pagar, já que aparenta ser mais elevado do que se gostaria. Hoje muitas questões, sobretudo as ecológicas e ambientais, perpassam pelo seu despertar, nem sempre aceito com tanta prontidão quanto necessário. Criar uma nova cultura que abra espaço para a qualidade e uma vida sustentável ainda parece utópico e distante', mas só parece porque queremos.

Os produtos ecologicamente corretos ainda se encontram caros, uma pena. As vezes os que são baratos demais, vem carregados de baixo custo a exploração da mão-de-obra e geração de problemas sociais ou, até mesmo, o trabalho infantil.

Não vamos mobilizar o prédio, nem o quarteirão, muito menos o bairro ou a cidade. Cada um que se mobilize, não de uma forma egoísta, se quiser pode mobilizar até o mundo; mas acho mais fácil cada um tentar se mobilizar primeiro. Reaver sobre os valores do próprio consumo, em todos os aspectos, e se tornar um consumidor consciente.

Construa seu deck de madeira manejada.

Já que não dá pra destruir o capitalismo, que ele sofra mudanças e se torne, finalmente, ecocapitalismo.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O sorriso de Maria.

Último dia de sessenta e sete anos. Os anos passados resolveram correr como filme na minha mente, normal, sempre disseram que isso aconteceria. Estranho foi não lembrar da minha infância, a primeira imagem que veio na cabeça, foi da praça, nos anos 50, quando conheci Maria, menina de vestido rosado, e uma fita branca no cabelo cacheado.

Estava sem muito dinheiro, o suficiente para lhe pagar uma pipoca, foi o melhor que me veio à cabeça, então me encaminhei em direção àquela linda jovem, e ofereci os milhos já estourados e brancos; ela me respondeu com um sorriso e pegou delicadamente o pacote que se encontrava em minhas mãos.

Senti como se estivesse vivendo tudo novamente, a sensação de frio na barriga, as mãos suadas, como se eu não fizesse idéia que aquela jovem seria minha futura companheira até o último dia, quem sabe além dele.

O sol brilhava como uma típica manhã de verão, apesar do sol, corria uma brisa bem gostosa. A jovem se levantou, estendeu a mão e disse: “–Maria...” Não respondi nada, aquele nome se repetia na minha mente como um disco arranhado, ela sorriu e saiu lentamente com o desconfortável silêncio que provoquei, então percebi que ela esperava que dissesse meu nome também, tarde demais, Maria já havia sumido no meio de tanto brilho naquela praça que me viu crescer.

Não consegui esquecer aquele rosto delicado durante todo dia; de noite, como de costume, fui encontrar uns amigos na mesma praça que conheci Maria pela manhã. Olhei para o pipoqueiro, para o banco, para as árvores, procurei em cada rosto feminino os traços de Maria, não encontrei. Até que João, meu amigo desde os tempos do pião no chão batido do quintal de casa, me cutuca com força e me chama atenção para uma menina em particular, Maria.

Fui me aproximando devagar, parei, e olhando nos olhos dela disse: “-Antonio...” E mais uma vez, aquela jovem sorriu, me pegou pela mão e me levou para o banco, conversamos o resto da noite.

Dia após dia encontrava Maria na praça, até que me senti pronto para fazer o pedido, já tinha trabalho, e certo dinheiro guardado para construir uma família. Tremia dos dedos dos pés até a ponta do fio mais alto de cabelo que tinha na cabeça. Maria sorriu, adorava ver aquele sorriso, e fez que sim com os olhos se afogando em lágrimas.

Anos se passaram, dividíamos a casa azul, de frente a histórica praça, com duas lindas crianças, que hoje em dia não são mais crianças, Bernardo, o mais velho, e Julia. Esposa de Bernardo está grávida, e Júlia acabara de marcar o casamento.

O sorriso de Maria, que permanecia o mesmo durante todos esses anos, habitava todas as memórias que tinha. Abri os olhos, olhei para o lado, com certa dificuldade, já estava fraco devido à doença que me atingira na boa idade, câncer de pulmão, conseqüência dos charutos que eram tomados como luxo, Maria estava ao meu lado... Sorriu, foi última coisa que pude ver, tudo escureceu.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Centro tem dessas coisas

O Centro do Rio de Janeiro é fascinante, cada esquina guarda consigo histórias. Sou meio viciada nessas coisas, enquanto ando pelas ruas fico pensando em quais e quantas pessoas passaram por ali, se elas marcaram nome de forma reconhecedora para muitos ou se apenas eram muito importantes para poucos. Imagino os diferentes pensamentos que pairam no ar, tento saber o que as pessoas escutam através de fones e para onde pretendem ir só de olhar para seus rostos e jeito de andar. Para uns pode parecer loucura, para outros é; mas, para mim, é uma maneira de passar o tempo de forma menos comum.

Pegar a barca de onze horas não é uma boa opção, mas foi o que me restou. Estava certa de onde almoçaria, havia recebido uma mensagem semanas antes sobre um certo restaurante que era inspirado nos anos 60 e 70. Zacks, R. México, 31. Um pouco diferente do que eu imaginei que seria, mas não chegou a ser decepcionante. Havia imaginado uns vinis pendurados, umas guitarras em santuários e uma roupa do Elvis toda brilhosa dentro de uma vitrine iluminada. Na verdade, o local tinha apenas as paredes cobertas por fotos antigas, como do Elvis, dos Beatles, do Fusca e de outras celebridades e manias da época. Clean e aconchegante.

Eu recomendo. O chão em duas cores, preto e branco. A comida? Ótima também. Na tela da televisão passava 'Cinderela' ao som de Elvis ao fundo. Acho que naquele momento minha vontade de voltar quase 4 décadas atrás aumentou de forma acelerada. Um pena que máquinas do tempo só existam em filmes e desenhos. Estaria no Woodstock, na passeata dos cem mil, nos shows do Barão Vermelho na época do Cazuza, dirigiria meu Fusca me sentindo com o carro do ano, entre outras coisas.

Centro do Rio me provoca uma nostalgia que deveria ser inexistente por falta de vivências.

Saindo do restaurante, avistei umas barracas vendendo vinis. Agora que já tenho uma vitrola, comprar vinis não é algo tão anormal como era antes. Minha coleção adquiriu mais dois discos: Help, The Beatles e Beatlemania.

Se alguém conseguir tirar a máquina do tempo dos filmes e desenhos, avise-me.

Fica a dica - Restaurante: http://www.zacks.com.br/lojas.html

sábado, 3 de janeiro de 2009

2009

Dois mil e oito não terminou de maneira nostálgica, contra minha vontade, um pouco de nostalgia combina com fogos de artifício e espumante. O dia estava ensolarado e o rio estava cheio em consequência da chuva do dia anterior. Ano novo é meio cheio de sorrisos, doces, goles, retrospectivas, abraços, dedos apontados pro céu, explosões que são bem recebidas, promessas e dúvidas sobre o que está por vir nos próximos 365 dias.

A dúvida é a melhor parte do ano novo, ou não.