sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Posso?

Posso tocar devagar? Parece que não secou ainda, alguém precisa verificar. Eu me prontifico! Vou só por o dedo indicador aqui no céu ou no mar, se ficar azul é porque... Farei com cuidado para não estragar a pintura, pode deixar.

Posso tocar devagar? Daqui do lugar em que estou, chutar forte seria estupidez.

Posso tocar devagar? Cansei de ouvir batidas ‘incronometráveis’ e dedilhados que não respiram. O ritmo ficará mais suave, mas ainda causa uma dança. É fim de noite. SE quiser só ouvir, ouça; se quiser só escutar, escute. O violão vai falar.

Posso tocar devagar? Conhecemo-nos desde a infância, você sabe que pode confiar em mim. Prometo não forçar nada. Esse seu rosto me faz imaginar a beleza de todo o conjunto. Agora, aqui, o que via apenas através de sombras tomará formas mais definidas. Relaxe.

Posso tocar devagar? Porque se tocarmos essa história rápido, é capaz de não dar certo, é um assunto delicado, andei estudando-o ontem. Divórcios nem sempre são fáceis e ligeiros, embora comuns. Estou te ligando para marcarmos um almoço amanhã, vou lhe explicitar determinados aspectos, pode ser?

Posso tocar devagar? Eu sei que ele está dormindo, mas esse rostinho inocente é tão convidativo. Nunca havia parado para imaginar o dia que veria meu neto. Bebês, tão puros ainda, sem saber de todos os fatos mundanos.

Posso tocar devagar? Já não tenho mais idade para isso, tenho dificuldades.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Carta.

Elmo. Sr. Noel,
os filmes de natal começaram a encher os canais de televisão, lojas estão fazendo promoções que promovem filas, árvores estão sendo montadas e pisca-piscas estão sendo ligados às tomadas; acho que chegou a hora de escrever uma carta. Faz tempo que não escrevo uma, então estou meio sem jeito.

As coisas andam muito complicadas, ainda mais agora com essa crise toda. Depois de vinte e nove achei que eles não deixariam isso acontecer novamente, mas tudo bem, nenhum sistema é perfeito, ainda mais um que trabalha com créditos. Por isso eu venho por meio desta solicitar coisas simples.

Não se preocupe, já tenho uma bicicleta. Aliás, para que baixar o IPI dos carros e estimular sua venda? Carros e mais carros... As ruas estão cansadas de se sentirem cheias e congestionadas. Percebo isso. Sem contar com a poluição, assunto clichê, nem perderei tempo falando, e o abismo social que as caixas móveis ressaltam. Motoristas e passageiros vivem o primeiro mundo de seus automóveis, enquanto malabaristas urbanos, vendedores de balas e pedintes permanecem em um terceiro mundo paralelo, separados apenas por um pouco de aço, alumínio, ferro, plástico, vidro e borracha. Deviam estimular a venda de bicicletas.

As sete, de uma terça-feira, escutei no rádio um outro Elmo. estimulando o consumo. A justificativa era simples: “Vamos consumir, você realiza o seu sonho e gera empregos.” Bela frase, dependendo do referencial, pena que maioria desliga quando começa o horário do Brasil. As pessoas andam muito pouco engajadas. Longe de mim, tentar deixar subentendido que todos agora deveriam fazer passeatas, ler os direitos humanos ou escrever dezenas de cartas para o presidente ou coisas do tipo. Apenas quis dizer que deveriam procurar saber o que tem além de seus próprios círculos de área piR ao quadrado. As relações inter-pessoais e inter-culturais seriam bem mais interessantes.

Gostaria de não estar fazendo um monólogo e sim ouvindo a voz de leite com biscoito que imagino que o senhor possua. Então vou logo para os pedidos:

- Se aposente. As crianças estão esquecendo que o Natal não é só ganhar presentes e escrever cartinhas, que tem todo uma subjetividade nele. Quando o senhor não aparece é meio decepcionante, por isso se aposente. Prometo que continuarei contando histórias ao seu respeito. Tudo bem, não precisa se aposentar, apenas conte toda a verdade!

- Pare de dar somente brinquedos e coisas materiais. Leve um sorriso pro menino que fica ali na Rua Bela Vista, o malabarista urbano, ele tem talento; outro para o moço que fica sentado em frente ao colégio República do Peru, sempre tão entediado; e um abraço para a menininha ali da Tijuca, perto do Colégio Militar, ela é só um bebê. Se possível, lhes dê uma família.

- Meu último pedido. Quando for jogar esta carta fora, lembre-se: o lixo azul que é o de papel.


Beijos.
Ass: Yzadora, que por um momento voltou a ter 6 anos, só que dessa vez não pediu uma fita do Latino.

P.s.: Desculpe se fui piegas, culpa da época.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Corredor, fale!

Parei para observar a foto do blog e não só olhar. O livro, 'O caçador de pipas', eu acabei de ler. O celular acabou ficando enrolado na fronha e indo para a máquina de lavar, me forçando a trocá-lo. A calça jeans está rasgando. A blusa, o uniforme, só colocarei agora para passar o Riocard. Como as coisas são passageiras e memoráveis.

Se as paredes desse corredor falassem levariam horas, dias, semanas, meses, anos para contar cada passo, cada riso, cada lágrima, cada abraço, cada conversa, cada momento que presenciaram. Se as paredes desse corredor falassem iriam me fazer lembrar de 900 dias da minha vida com facilidade.

Os dias de chuva, os rostos apreensivos admiravam a rua sumindo e se confundindo com o rio Maracanã. As bocas dos rostos apreensivos soltavam frases de surpresa e risos de admiração. A lixeira que parecia firme estava flutuando como um barco de pesca. As árvores dançavam ao som do vento. Se as paredes desse corredor falassem iriam me fazer lembrar do meu rosto apreensivo nos dias de chuva.

Os passos apressados e os lentos, os que sumiam rapidamente e os que se arrastavam pelo chão sem pressa. Os acompanhantes, do primeiro ao décimo, do décimo ao primeiro. As mãos que tocaram firmes, que deslizaram. Os corpos que se encontravam encurralados sem reclamar. Das confusões, das certezas. Se as paredes desse corredor falassem iriam me fazer lembrar do meus passos, dos meus acompanhantes, das minhas mãos e do meu corpo as tocando.

As conversas descontraídas que vairavam as tardes e o silêncio que se extendia falando. As confissões que foram guardadas e as fofocas que não foram abafadas. O descontentamento contente e o contentamento descontente. As amizades que ali foram feitas, que ali foram desfeitas. Os esbarrões alegres, os sem graça, os inoportunos, os corriqueiros, os usuais e os extraordinários. Se as paredes desse corredor falassem iriam me fazer lembrar das pessoas com que ali tive, as que já se foram e as que permanecem.

A lágrima de solidão e de emoção.

Todos os momentos dos 900 dias seriam contados detalhadamente. Eu os lembraria, os ouviria, os repassaria e sentiria falta.

Se as paredes daquele corredor falassem eu as pediria silêncio.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Açúcar cristalizado.


Desde que me formei em turismo e tirei a carteira de guia, ando pelo Rio de Janeiro contando histórias e mais histórias sobre cada pedaço que se pode imaginar. Os turistas têm a terrível mania de achar que nós, guias de turismo, sabemos tudo. Geralmente as perguntas são simples e até dá para responder, mas sempre tem um indivíduo que quer saber o nome do sujeito que colocou o primeiro tijolo da Catedral Metropolitana, ou coisas do tipo.

De cativantes senhoras aposentadas que fazem amigo oculto às crianças que aguardam ansiosamente o final para cantar: “Ô motorista, meus parabéns, foi e voltou sem matar ninguém”. Mas nada me incomoda mais do que aqueles que crêem saber de tudo, até o nome de quem pôs o primeiro tijolo da Catedral Metropolitana.

Na maior parte das vezes saio viva depois de um dia com esse tipo de gente, mas naquela segunda-feira queria sair mais que apenas viva. Regra cinco dos guias de turismo: jamais dê informações falaciosas. Nunca gostei muito do número cinco mesmo.

Segunda-feira, 10h da manhã. Pão de Açúcar. Três rapazes cheios de si e eu.
“Bom dia, estamos aqui no Pão de Açúcar, que é um marco natural, histórico e turístico da cidade do Rio de Janeiro. Há várias versões históricas a respeito da origem do nome Pão de Açúcar. Segundo historiadores, foram os portugueses que deram esse nome, pois durante o apogeu do cultivo... pois durante o apogeu do cultivo...”

Era aquela minha chance, eles me olhavam com cara de superiores como se soubessem que foi no apogeu do cultivo da cana-de-açúcar. Óbvio que seria no da cana-de-açúcar, mas acho que queria provar para mim, que eles eram apenas arrogantes, e só.

“... pois durante o apogeu do cultivo da cana-de-açúcar, os senhores de engenho costumavam vir aqui para passar algumas horas com suas amantes. Por ser um local alto e de difícil acesso na época, era perfeito para se esconderem e admirarem a vista da Baía. Certo dia, o Senhor de Engenho, Pedro Colombo, subiu ao morro sozinho.”

Adorava ver a cara deles de que já sabiam sobre tudo aquilo que eu estava falando.

“Naquele dia, ele carregava consigo pães confeitados por sua mãe, a maior confeiteira do Rio de Janeiro, aliás, a Confeitaria Colombo pertenceu à família de Pedro. Assim que atingiu o local que sempre ia com suas amantes e seus amantes, sim, Pedro mantinha relações sexuais com amantes do mesmo sexo; ele se pôs a admirar a bela vista que estamos contemplando neste momento.”

Os três olharam para o horizonte com cara de paisagem.

“Havia uma lenda sobre uma Fênix, o pássaro que ressurge das cinzas, que aparecia todos os dias às seis horas da tarde, para expulsar todos que no morro estavam e o guardar por doze horas, pois o local a pertencia. Hoje, quando o sol alcança o seu zênite - ao meio dia - no Rio de Janeiro, aqueles que se dispõem a olhar para o Morro do Pão de Açúcar a partir da Marina da Glória, poderão ver projetada neste morro a imagem, em forma de sombra, da tal Fênix.”

A feição deles era ligeiramente intrigante, a vontade de rir era inevitável, mas a de continuar com a história era maior.

“Pedro esticou a toalha e começou a comer seus pães confeitados. Como naquela época, o uso do relógio não era muito comum, Pedro se esqueceu da hora enquanto admirava a vista e saboreava os pães com açúcar cristalizado. Quando deu seis horas, a Fênix apareceu raivosamente para Pedro. Muito inteligente e amigo dos animais, ele a ofereceu um dos maravilhosos bolinhos, o que fez com que a Fênix se tornasse sua amiga. Desde aquele dia, os senhores de Engenho poderiam virar as noites com suas amantes entre o morro e as estrelas. Pedro foi reconhecido como grande herói e o pão de açúcar cristalizado de sua mãe, se tornou grande atrativo na cidade.”

Três rostos impressionados.

“No começo, o morro foi chamado de pão de açúcar cristalizado, mas depois se tornou somente: Pão de açúcar. Que permanece até hoje. Bom, essa é a história da origem do nome deste ponto turístico. É apenas uma das versões, existem outras, mas eu conto em outra oportunidade.”

Quem precisa da regra cinco?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ruy Barbosa, o humilde.




Nada contra o Ruy Barbosa, até gosto dele.
Primeiro que ele tem até uma rua, quisera eu ter uma rua. Nasceu 1849 na rua dele, em Salvador. Tudo bem que na época não se chamava Rua Ruy Barbosa e sim Rua dos Capitães, mas isso não vem ao caso. Coitado dos Capitães, trocaram os capitães, que são vários, ou pelo menos mais de um, por um único indivíduo: Ruy Barbosa, o humilde.

Dizem por aí que aprendeu em quinze dias análise gramatical, a distinguir orações e a conjugar todos os verbos regulares. Grande coisa, não? Se me dessem quinze dias eu aprenderia o pacote Ruy Plus verbos irregulares.

Na última sexta-feira tive a oportunidade de fazer uma pequena visita à casa do Ruy. Nove horas de uma manhã chuvosa em um jardim ligeiramente imenso, maior que o meu quarteirão, tenho quase certeza. No canto esquerdo avisto uma casebre, será aquela a casa? Não, era apenas uma casa de quatro paredes com um chuveiro power no meio, para as crianças se refrescarem após um dia de brincadeira no playground particular.


Lado direito: um casarão salmão. Será essa a casa? Sim, meu palpite foi certeiro.
Dez horas de uma manhã nublada, lá estava eu, a quase humilde, adentrando à casa do Ruy, o próprio. Uma escada de madeira escura, cômodos, o banheiro. Naquela época os banheiro eram situados fora da casa ou com o uso daqueles sanitários móveis, mas Ruy exerceu sua humildade, era dono de um vaso sanitário fixo e com descarga!

Lembra da história do uso das velas? É verdade, mas Ruy tinha seus contatos, a LIGHT, e o exercício de uma de suas maiores qualidades entrava em vigor novamente. Enquanto pessoas traziam a luminosidade com fogo após o sumiço do sol, Ruy à trazia com um interruptor!

Quanta humildade!

As tardes de música formadas em seu piano de calda acompanhados por, nada mais nada menos, histórias de Machado de Assis contadas pelo próprio. Em sua biblioteca particular, livros em todas as línguas, menos na língua do "p". Se você não sabe a língua do "p" não fique triste, Ruy Barbosa também não sabia.

Lavar louça com água quente, chamar criados por um sistema revolucionário, hoje usado em hospitais para chamar enfermeiras, acender a luz modernamente, ter Machado de Assis na sala de casa, usufruir de um amplo jardim com chuveiro refrescante, ter um playground particular, entre outras regalias à apenas alguns quilômetros de sua casa.

Viva Ruy Barbosa, o humilde!

Ah, quase me esqueci, nasci muy perto da casa do Ruy, quanto prestígio!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Quem jura mente. E quem promete?

Domingo, 26 de Outubro.
Ao invés de ir ao Maracanã, os cariocas foram votar, tirando os 20,25 % que decidiram não exercer este direito. O que me surpreende é, que depois de tanta luta, 927.250 pessoas não reconhecem a importância que a votação tem. Não estou aqui para dizer quem deveria ser eleito e quem não deveria, embora não esconda meu descontentamento. O que me resta agora é torcer para que o novo prefeito seja realmente responsável e consiga levar o Rio de Janeiro para frente.

Segunda, 27 de Outubro.
Nem um pouco conformada. O jornal O GLOBO tem como capa o novo prefeito e a manchete: "Diferença de 55 mil votos dá a Paes o desafio de unir o Rio". Unir o Rio.
Paes dedicou a vitória a Cabral e Lula, se eu tivesse votado nele me sentiria mal, devia ter dedicado aos eleitores.
Passei a segunda me lamentando pelo o acontecido, procurando promessas e as anotando, para mais tarde poder cobrar. Cortei aquele quadrado de cor pastel que veio no globo, onde tinham 39 promessas do novo Prefeito, e pus na geladeira. Hoje de manhã não estava mais lá.

Terça, 28 de Outubro.
Não li o jornal, mas a notícia acabou chegando até a mim. A manchete: "Eleito, Paes descumpre promessa e abre governo a partidos aliados".

1ª: Falou que não iria fazer nomeações políticas, mas ontem fez uma reunião fazendo divisões de cargos;
2º: Anunciaria primeiro o secretário da saúde, mas anunciou o futuro chefe da casa civil;
3º: As primeiras UPAs seriam no Méier e em Madureira, mas as duas primeiras serão na zona oeste.

Promessas descumpridas, que, talvez, não façam tanta diferença. Quando comentei com minha mãe, ela apenas disse que ele estava vendo as prioridades. Se a prioridade é descumprir o que antes foi cumprido para a melhoria do município, que seja feito.

Três, apenas três com dois dias sendo chamado de ''o próximo prefeito do Rio''. Espero que quando ele começar a ser chamado de ''prefeito do Rio'' ele não resolva descumprir mais.

Vou procurar o quadrado de cor pastel e recolocá-lo na geladeira.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bancos azuis.

Já estava acostumada em ser superficial, essa palavra soa um pouco forte, mas era exatamente assim que agia, só tendo o cuidado em deixar a superfície agradável para as circunstâncias. E por mais que não parecesse, eu começava a ficar incomodada em cultivar o vazio por dentro sem aparentar claras preocupações.

Enquanto seguia minha rotina, me sentei em um dos bancos azuis no bosque do parque e pude perceber que em cada um daqueles bancos eu guardava uma lembrança em particular.
Lembranças de risadas que me deixaram surdas e de lágrimas que me emudeceram, durante a minha juventude. Quando parei de encarar os bancos, minha cabeça pesou para trás, me obrigando a encarar os raios solares que rasgavam as copas das árvores, o que me deixou cega.

Fazia tempo que não voltava ao bairro que me viu crescer, muitas casas haviam mudado de cor, as ruas faziam mais barulho e as pessoas andavam com fones em seus ouvidos, não aproveitando o canto dos passarinhos, que hoje já quase não se dá para ouvir.
Foi exatamente ali, naquela praça de bancos azuis, que aprendi a andar, que apreciei fogos de artifício quando os anos viravam, foi naquele banco, do lado do pipoqueiro, que descobri pela primeira vez como era o toque de dois lábios, o parque me remetia lembranças de Laurinha.

Sinto saudades de Laurinha, menina de cabelos longos, ondulados e castanhos olhos mel, que mudavam de acordo com a luz, ou até mesmo com seu humor. Laurinha ria da vida, queria abraçar o mundo e conhecer pessoas diferentes.
De fato, Laurinha, com sua perseverança, conseguiu tudo o que queria, aparentemente. Hoje é uma renomada promotora, mora em um bairro de classe alta e tem sempre o carro do ano em mãos. Garota de sorte. Sinto saudades de Laurinha.

Lembro-me do jeito que andava pelas ruas, sempre muito simpática, no baile da escola, com aquele vestido azul com laço atrás, os sapatos brancos, muito brilhantes, as duas tranças que fazia aos domingos para ir à igreja com a avó, das histórias inventadas que contava para as crianças mais novas, dos seus ideais mais profundos.
Ser superficial me incomoda sempre quando lembro de Laurinha, ela era tão cheia de alegria em tudo que fazia.

A luz que atravessava as copas me conduzia por um passado, que eu jamais queria ter esquecido; pessoas que eu jamais pretendia perder o contato, umas que jurei amizade eterna, que hoje, não sei por onde estão, preciso arranjar um tempo para saber notícia de alguns e com certeza achar a Laurinha de novo.

Não queria ter deixado Laurinha para trás e ter me tornado Dra. Laura de Alencar em tempo integral. Gostava quando as vozes de amigos e familiares me chamavam de Laurinha.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Nem isto, nem aquilo.

Não quero mais ouvir lágrimas, nem palavras duras, ouvir que a decepção é constante e que a ingratidão é o meu presente. Não quero mais sentir distâncias próximas, não quero me esconder diante do que todos conseguem ver. Quero abraçar o mundo, dizer quanto eu o amo, quero pedir desculpas e receber o perdão, quero ouvir qualquer obrigado que me conforte ou qualquer palavra que me apoie ou qualquer olhar que me console. Os dias andam devagar e com dificuldades, mas quem é capaz de ajudá-los?
Talvez eu realmente esteja errada e não reconheça os fatos, mas, por favor, não bote a culpa em mais ninguém. Deixe que os outros sejam aliviados de receber fardos que não os pertencem, eu sim mereço.
Merecer. Posso fingir que mereço, pois reconhecer ainda não pude alcançar. Fingir para ofertar um conforto à maioria. Pedir desculpas não surtem efeito, embora sejam fruto de mais pura sinceridade.
Mereço ouvir lágrimas e palavras duras, que a decepção é constante e que a ingratidão é meu presente. Mereço sentir vergonha da realidade e não compartilha-la com ninguém, e ainda mereço ouvir que desfruto de conselho mal intencionado, mesmo não tendo nenhuma.
Não quero ouvir sobre entes que deveriam ser próximos, nem sobre os que são próximos, mas deveriam estar longe.
Embora mereça.
Quero balbuciar desculpas, mas elas são abafadas pelos momentos inoportunos. Talvez não queiram ouvir também.

Que bom que inventaram os fones de ouvido e as músicas, o algodão e o dedo não são tão eficientes.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

50 anos depois.




Eu adoro aparecer. Eu descobri isso ontem quando repeti pela centésima vez a minha frase preferida: "Conterei isso para os meus netos".

Meu Deus, como eu sou exibicionista. Qual a necessidade de contar tudo que eu faço de legal para os meus netos? Nenhuma. Apenas colocarei inveja neles, ou não. Eles talvez não achem tanta graça no que eu considerei legal em 2008, tudo vai estar ultrapassado. Minha avó achou legal quando brincou de amarelinha na chuva escondida de sua mãe, já eu...

E sinto que isso é o que irá acontecer comigo. Contarei toda empolgada que com 17 anos achei super emocionante beber em uma rua qualquer com os amigos no dia de Cosme e Damião. Talvez eles olhem pra mim e digam: "Vovó, isso não tem tanta graça assim, o bom mesmo é se teletransportar pro foguete porto da Petrobras."

E do jeito que a tecnologia anda se avançando, eu não sou capaz de duvidar de nada. Tenho que parar de querer aparecer para crianças que nem nasceram ainda e apenas viver. Parar também de achar que serei uma avó super moderna, pois daqui à cinquenta anos a modernidade de hoje estará ultrapassada. É triste pensar assim, mas...

Pronto, não farei mais planos para envelhecer modernamente e nem para ser uma avó contadora de histórias emocionantes de uma adolescência não tão emocionante. Acabarei não fazendo bolo de sorvete, e sim bolo de milho.

O problema é: eu adoro aparecer.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Os cinco sentidos.

Eu sem querer havia arranjado um novo alguém. Fugiu do comum, fugia do comum.
Eu sabia o nome dele, ele sabia o meu. Nós nos falávamos através dos dedos, digitando. Somente. Quando nos víamos, fingíamos não nos conhecer. Mas eu o conhecia, ele me conhecia, mas deixamos isso em segredo, até para nós.

Não nos olhávamos; com o tempo começamos a nos olhar, nos observar.
Nossos olhos castanhos se encontravam à noite e paravam por alguns segundos para conversar. O que conversavam? Não sei, fui incapaz de descobrir até hoje.
Tenho dúvidas se aquela época era melhor ou não. Talvez não fosse necessário ter aprendido a falar.

As palavras começaram a surgir. Eram poucas, insignificantemente com valor. Não haviam substituído os olhares e as conversas digitadas. Ainda. Tínhamos vergonha, talvez, ou receio. Porque parecia tão difícil com ele? Porque parecia tão difícil comigo? São perguntas sem resposta.
As palavras aumentaram, as conversas digitadas ficaram raras. Raras em seu melhor sentido. Os olhares são apenas olhares, como qualquer outro. Agora os mesmos segundos que antes se enchiam de diálogos, não fazem mais sentido, estão em silêncio. Diálogos preenchidos com palavras sonoras. Parecia que tudo estava se tornando mais concreto. Apenas parecia.

De repente conhecemos o toque. O carinho na cabeça, a luz baixa e a sensação de conforto, lembro-me bem. Nossas mãos se tocavam do jeito mais malicioso que ingenuidade possui e as pernas se confundiam entre si. De uma forma nostálgica conversávamos pelos dedos novamente, mas eram expressões de saudade, do tipo que vem e vai embora. Os convites eram constantes, a negação também. Negação sem razões convincentes, parecia que toda a vontade dos dias úteis era nula em dias inúteis. O desgaste do tempo surtia efeito. Envelhecemos. Os diálogos sonoros estavam mudos e surdos, os toques eram mais fracos, os olhares estavam cegos e as conversas digitadas foram esquecidas.

A fragrância, deixada no pulso em uma das noites, me fez inalar vontades que não passaram disso.

Experimentamos juntos, sentidos. Visão, audição, tato e olfato. Paramos por aí. A velhice nos chegou rápido, aproveitamos superficialmente as vivências, não nos restou tempo para experimentar do paladar. Vergonha, receio ou falta de real vontade. Somos dignos apenas de quatro sentidos e não cinco.

sábado, 20 de setembro de 2008

Rolling Stones

Peguei a jaqueta jeans e saí. Não agüentava mais ficar apenas andando entre cômodos, precisava transitar entre ruas e avenidas. Na época, o ônibus ainda era um e noventa, bons tempos. Nunca havia pegado um ônibus no ponto final e saltado no outro extremo final, aquele seria o dia. General Osório seria meu destino, apesar do frio, precisava ir à praia.
Tudo tinha uma similaridade diferente. As pessoas riam, será que só eu não gostava de dias frios ou não entendi a piada? Trânsito intenso. Só tinha cinco reais no bolso, daria para voltar, embora a minha vontade fosse contrária. Demorei por volta de uma hora e meia para chegar a Ipanema, o trânsito não estava tão intenso assim. O sol abriu um pouco, tirei a jaqueta. Quantos meninos de rua. Não quero ficar segurando essa jaqueta. Uma criança dormindo no chão, difícil dizer se era menino ou menina. Dobrei a jaqueta e coloquei paralelo ao rosto dela, no chão. Andei em direção à praia.
Minha mãe vai me matar quando souber que a jaqueta, que insisti tanto ganhar no aniversário do ano passado, estava no chão da Praça General Osório. Dane-se. Azul gélido era a cor do mar, talvez essa cor não existisse, mas agora existe, porque havia acabado de inventar, era essa a cor do mar naquela tarde de terça-feira. Na beira do mar estava frio, senti vontade de voltar e pegar a jaqueta, mas não voltei.
Algumas pessoas estavam no mar; o Arpoador estava com ondas boas, algumas quebrando sozinhas, outras não. Fiquei olhando, só olhando. Esqueci de deixar um bilhete avisando que havia saído, minha mãe iria perceber, com certeza. Percebeu. A fumaça demorava a sair e jurei que aquele seria o último dia. Foi. O tempo fechou novamente, começou a chover dessa vez, não me importei, continuei olhando, só olhando. Até que não havia mais nada para olhar. Levantei e voltei para Praça.
Muita gente, correndo, falando alto silenciosamente. Esbarrei em um rapaz de terno, ele nem percebeu ou não se importou. Uma senhora aceitou minhas desculpas pelo esbarrão. Uma criança esbarrou, passou correndo para se esconder da chuva debaixo de alguma marquise talvez, olhei para trás. O bordado ‘Rolling Stones’ me pareceu familiar, a jaqueta jeans também. A minha jaqueta. A jaqueta daquela criança. Foi difícil ver se era menino ou menina. Todos estavam correndo; com a cara fechada, só eu ria.
Será que eles não entenderam a piada ou só eu que gosto de dias frios?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Alma, vendo.

(texto para o colégio, primeiro parágrafo de Veríssimo. "Decidi vender... procurava comprador?")

Decidi vender minha alma ao Diabo para ser uma mulher de sucesso. Logo me deparei com um problema prático: Como é que se fala com o Diabo? Em todos os exemplos que conhecia, da literatura e do cinema, o Diabo fazia o primeiro contato. O Diabo era o interessado, era dele a proposta para comprar a alma. Como deveria proceder quem tinha uma alma para vender e procurava comprador?
Ouvi falar sobre uns rituais, algo que tenha muito sangue, que, no caso, provavelmente será meu o envolvido. Deve haver outra forma de vender a alma, uma coisa mais atual, afinal estamos em um mundo globalizado. O próprio Senhor Lúcifer deve ter se modernizado, talvez haja um e-mail, um telefone ou qualquer outra coisa que não envolva meu sangue jorrando e formando palavras e frases em um pedaço de papel.
Eu tenho nervoso de tirar sangue para fazer exame, imagine para escrever um pergaminho dizendo que eu estou vendendo minha alma, radical demais para uma mulher da minha idade. Apesar de que se eu quero o sucesso, tudo vale. Minha definição de sucesso engloba vida profissional e amorosa, acho que tem que especificar, pensarei nisso mais para frente. Será que depois ele vem pessoalmente para algo mais informal? Tomara que não, eu não saberia o que usar, só tenho uma roupa preta, a que eu vou a todos os velórios, ele provavelmente vai reparar. Comprarei mais roupas pretas.
Deu tudo errado na minha aparente vida perfeita, a menina com boa aparência e formada em direito por uma excelente faculdade, terminará sua trajetória triunfante vendendo sua alma para o Diabo, dá até um filme se bobear. Eu, quando mais jovem, acabei sendo engolida pelo sistema, deixei de fazer jornalismo e me envolvi com a história de ganhar mais dinheiro com determinada carreira, mas foi exatamente o que NÃO ocorreu! Cadê o dinheiro? O mundo capitalista me envolveu e a fome de ser rica encheu meus olhos. Acho que vendi minha alma para o Senhor Lúcifer assim que me deixei levar por essas vontades mundanas.
E agora com 30 anos, me encontro mais uma vez fazendo uma nova oferta de alma. Vou pôr nos classificados, promovendo minha alma. O Diabo deve ler jornal nas horas vagas, caso ele tenha horas vagas, por que nos dias de hoje, com tanta coisa ruim acontecendo, ele deve até fazer hora extra. É tão complicado vender minha alma, bem mais do que imaginei.
Quer saber de uma coisa? Deixarei que o Diabo venha me procurar, enquanto isso viverei minha vidinha, tentando obter o sucesso sem nenhum tipo de ajuda alternativa, várias pessoas conseguem, talvez eu consiga também, o Bill Gates conseguiu... Se bem que às vezes eu desconfio que ele tenha feito algum pacto com o Diabo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Engolida pelo sistema.

Caí nas garras da Decisão Capitalista. Era o que eu mais temia, a minha pessoa engolida pelo sistema. E você se pergunta? Oh meu Deus, a Yzadora engolida pelo sistema? Sim, a Yzadora, eu, engolida pelo sistema. A expressão engolida pelo sistema é bem legal, acho que a repetirei durante esse textos mais vezes.
Enfim.
Quando você tem duas opções: Mar negro ou Mar cristalino, Lagoa da Coca-cola em Araruama ou Praia Grande em Arraial do Cabo, ver seus pés e onde você está pisando ou ir no mistério? O que você escolheria? Bem, eu escolhi o mar cristalino, a Praia Grande e saber onde eu estou pisando. Eu acabei me decepcionando comigo mesmo depois de ter feito a escolha.
Mas e daí? Cadê a parte de engolida pelo sistema? Calma, vou chegar lá.
Desde de pequenininha eu fui sendo direcionada para alguma coisa. Apesar de ter a liberdade de escolher, ou brincar de escolher, o que eu quisesse, no final, para o que eu estava sendo direcionada implicitamente acabou pesando. Eu ia pro escritório do meu avô, mas também brincava de professora; eu ajudava meu avô a bater petições, mas também desenhava modelos de roupa; eu procurava processos e os imprimia, mas também me fingia ser atriz de cinema. E eu nem percebi o quanto estava sendo influenciada, acho que nem quem me influenciou percebeu o que estava fazendo. Normal, faço várias coisas sem perceber também. Por exemplo, acabei de deixar o sistema me engolir e nem percebi.
Eu escolhi Direito na UFRJ. Pronto, falei. Pode falar: "Yza, você fez merda." ou "Você não nasceu pra isso.".
Agora já foi. Já foi e está ido.
"Ou tu entra nessa, ou tu morre de fome".
Ouvi isso em algum filme, me soou familiar. Quero ver no final, quando me tornar advogada e uma morta de fome, eu vou rir muito, mas muito mesmo. Tudo bem, muito não, é meio chato rir muito da própria desgraça, então rirei só um pouco, como se tivesse sido aquelas piadas de fim de tarde no Domingo.
"Faculdade é só um canudo".
É a boa, gosto de tomar as coisas de canudo. Muito mais simples. Se não houvesse o canudo, beber água de coco e suco de caixinha ia ser a pior parte do dia. Entendeu? Eu explico. Se não houvesse o canudo, no caso a faculdade, não beberíamos a água de coco ou o suco de caixinha, que aqui no caso representa desfrutar dos melhores empregos.
Ótima observação.
É foda, o sistema te engole fácil. E mesmo se eu fizesse Jornalismo, o sistema iria me engolir. Estou aqui hoje escrevendo em um blog, mas na frente eu estaria naquela mutreta recebendo dinheiro pra esconder fatos da mídia. Olha lá o sistema se alimentando da Yzadora Jornalista.
Eu só iria adiar um pouco o almoço do sistema.

Tudo bem, agora já tá feito, vou esperar o sistema me digerir pra vê se eu sou aproveitada ou caio na privada como Yzadora, a merda.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Silêncio... Monstro Invisível. (2)

Tá... gastei meu cérebro, meus neurônios, minha capacidade de pensar à toa.
Monstro invisível não passa de uma música do 'O Rappa'.
Bosta, povo não faz mais mensagem subliminar para por em outdoors.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Silêncio... Monstro Invisível.

Todo mundo que mora no Rio de Janeiro deve ter visto isto em algum lugar pendurado na rua. Um outdoor preto, escrito somente "Silêncio... Monstro invisível", nada além disso. Se não viu, é pelo simples fato de não ter prestado atenção. Pois bem, eu vi. Mas eu não me contentei em ver, e resolvi entender, nos últimos dias estou assim, tudo que eu vejo acho que tem uma mensagem sublinar, devo estar paranóica.

Passei uma semana, duas, talvez três (não fiquei contando, mas foi um bom tempo), tentando descobrir o que esse outdoor quer passar. Acho que ele tem uma mensagem subliminar, acho não, tenho certeza, porque clara é que a mensagem não pode estar.

O que veio primeiro na minha cabeça? Não lembro. Só sei que eu tentei decifrar palavra por palavra.
Definição simples de o que é algo invisível: O que não se vê. Tá, partindo desta definição, podemos nos considerar parcialmente invisíveis, pois não conseguimos nos ver por completo sem o auxílio de um espelho. Quando eu era criança, queria ter poderes de invisibilidade, agora, depois da conclusão que cheguei, percebi que se eu tivesse parado pra racicionar teria descoberto que tenho esse poder, eu e todos nós. Não só somos invisíveis para nós mesmo, mas para os outros também. Meio louco, mas faz um certo sentido.
Até aí, lhufas, e daí saber que somos invisíveis? E que raios eram os monstros? Nós, mais uma vez? Sim. Sim? É.
E denovo buscando uma definição... Monstros são, segundo o dicionário que tenho em casa, "Produção, animal ou vegetal, que aberra da ordem da natureza; ser fantástico criado pela mitologia ou pela lenda; figura colosal; animal de grandeza desmedida; assombro; prodígio (?); pessoa desnaturada, cruel; muito grande."
É, o dicionário podia ter resumido em: "sinônimo de ser humano.".
Somos animais, que aberram da ordem da natureza... Convenhamos que somos estranhos diante do resto. Somos um assombro, um prodígio, desnaturados e cruéis. Sinto lhe dar essa notícia, mas você é um monstro, que merda ou parabéns.
Tá, segundo meu raciocínio lógico, a mensagem subliminar do outdoor relaciona 'monstro invisível' conosco, inclusive o cara que resolveu fazer o outdoor.
E o silêncio? O preto de fundo? As letras em branco?
Silêncio, para nada mais, nada menos, calarmos a boca e escutarmos nosso monstro interior. Aquele invisível que nem com um espelho conseguimos notá-lo; para escutarmos o que ele tem para dizer. E o branco no preto é justamente isso. Um lugar escuro, aparentemente sem nada, onde só se deva sobresair o tal monstro invisível.

Acho que ouvir o monstro invisível não é uma coisa ruim. Não descobri ainda.
Levarei mais uma, duas ou três semanas para descobrir. Talvez eu mude de opinião e perceba que essa interpretação é completamente absurda.
Ou talvez eu só deva arranjar o que fazer e parar de pensar merda.

Peraí... Ou seria o próprio silêncio o tal monstro invisível? O silêncio pode esconder muitos perigos.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Jogo de otários.

O ônibus sempre me faz pensar em coisas ironicamente desnecessárias:

"Jogo de Otários: Digamos que foi criado juntamente com Adão e Eva. Tem como objetivo chegar ao final do tabuleiro fazendo o maior número de pessoas de otárias, consequentemente quem obtiver um quantitativo maior de pessoas, ganha. Elaborar a estratégia certa para se dar melhor que o adversário é o segredo.

Regras: Não há regras.

Dicas:
1)Caso o adversário note que você o está fazendo de otário, finja-se de desentendido.
2) Observe à sua volta, só observe. "

Ônibus 456- sentido norteshopping.

domingo, 29 de junho de 2008

Liberando o Id.

O dia está bonito hoje, fazia um tempo que o calor e o frio não entravam em equilíbrio. O céu azul e o vento fresco. Que dia é hoje? Quarta-feira. Nossa! Em plena quarta-feira e eu no bar da zona sul do Rio, sozinha. Agora me lembro claramente de minha mãe me dizendo para não começar a beber.

Vou pedir mais uma caipirinha, é só esperar o garçom olhar. Aliás, caipirinha foi a primeira bebida regada à álcool que provei, uma das poucas que gostei. Nunca gostei muito de cerveja, nem de chopp, e a minha maior dúvida em relação à isso é como as pessoas conseguem beber cerveja como água. Deve ser um bloqueio meu, a única explicação.

Opa, o garçom olhou. Mais uma caipirinha, por favor.

Acho que todos aqui no bar estão bebendo cerveja, menos eu. Se bem que não sei diferenciar cerveja de chopp aparentemente, só se for pelo formato dos copos. É, olhando os copos, acho que se dividem entre cerveja e chopp.

Me lembro do meu primeiro chopp, no subúrbio, onde morava. Fui com uns amigos jogar sinuca e acabei sentada à mesa com um copo cheio de chopp e ouvindo: "Prova, sente a espuminha". Provei, não gostei e depois não quis mais tentar para verificar se iria acabar gostando.

Obrigada, pode fechar a conta.

Só tomarei mais essa, duas está ótimo. Parei aqui sem um motivo concreto, não estava fazendo nada mesmo. Da próxima vez tentarei desbloquear-me em relação à cerveja.

(...)

Não, não vai adiantar nada, eu já tentei, até já bebi cerveja com coca-cola. Quando se é menor é assim, tudo que é alcoólico se mistura em refrigerante para não desconfiarem ou sei lá a razão. Sei que bebi muita cachaça com coca-cola. Não gostava de vodka, continuo não gostando. Gosto de uma boa cachaça. Mas não sou cachaceira, é uma denominação muito forte, sou apenas uma apreciadora da bebida alcoolica brasileira.

O garçom está demorando. O bar está cheio, deve ser esse o motivo, e nem é sexta-feira, existem mais desocupados do que imaginei. Sou a única bebendo sozinha, bem estranho isso.

(...)

A conta. Os 10% do garçom. Dúvido que os 10% vão para eles, é só uma forma dos patrões lucrarem mais. Da próxima vez darei os 10% separado, na mão do garçom. É, eu não devia ter vindo andando, vou chamar um táxi, preguiça de andar.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Mundo melhor

Dedicado à uma amiga.

Eu admito, faço piadinhas com os hippies com o fato de alguns não se depilarem e sempre uso a expressão "Vai abraçar uma árvore" quando alguém diz que gosta dos hippies, mas também admito que os admiro. Eu queria ter nascido na década de 50, e ter participado do woodstock em 69, eu queria ter feito parte de um movimento que mudou o mundo em alguns aspectos, eu queria ter participado de uma época onde as drogas não eram usadas de uma forma feia e sim apenas para liberdade.
Eu admiro o movimento hippie.
Lutaram pela natureza, pela liberdade de expressão e pela paz, estou começando a achar que estamos precisando de outro movimento hippie, acho que começarei um. As guerras continuam e tem quem se orgulhe disso, os animais ainda são mortos e tem quem os penduram na sala, as drogas são lucrativas para o tráfico e tem quem não ligue, e alguns ainda não notaram que somos todos iguais e insistem em serem preconceituosos.
A humanidade, como um todo, errou muito, vemos isso hoje.
Uma coisa que eu andei pensando, dizem que as calotas polares estão derretendo por causa do efeito estufa, mas acho que isso é apenas um porcesso natural. O mundo não passou pela era do gelo? Então, aquele gelo todo teve que derreter, e creio que não havia ninguém com uma indústria gigante furando a camada de ozônio. Lógico, o processo de degelo pode ter acelerado, mas acho que não é pra tanto.
Pensando bem, é pra tanto sim, se alguém levantasse o dedo, pegasse o microfone e falasse: "Relaxem, isso que estamos passando é normal.". Não ia dar muito certo, íamos continuar tomando banhos longos ou desmatando a amazônia, precisamos de um sacode para nos tocarmos .
Não era esse o mundo que eu queria ter crescido, e não é esse o mundo que eu quero que meus filhos, netos, bisnetos, tataranetos cresçam.
Decidi que hoje começa uma 'monorevolução', eu sozinha comigo mesma, mudarei meus hábitos. Se todos fizermos uma 'monorevolução movimento hippie', vamos acabar tendo uma 'polimonorevolução movimento hippie' e um mundo melhor.

Começa a campanha: Faça sua 'monorevolução movimento hippie'!

Fica a dica.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Sorte de Hoje

“Sorte de hoje: Evite tomar decisões precipitadas.”


“Quem é você para me dizer o que devo e o que não devo fazer?”

Foi o que pensei assim que li a tal “sorte de hoje”, geralmente ela é repetitiva, diz que terei uma velhice confortável, o que acaba me garantindo que morrerei velha e feliz, ou seja, não terei dificuldades com contas a serem pagas, terei uma família estruturada, e provavelmente eu tenha uma cama confortável, ou um sofá, vai saber. A “sorte de hoje” sempre acaba me fazendo pensar além do que ela diz.

Evitar tomar decisões precipitadas, quer dizer que se eu tomar uma decisão precipitada não serei bem sucedida, é, o óbvio, mas como saberei que é precipitada? Toda decisão tem que ser pensada precipitadamente, o que me vem a crer que toda decisão é precipitada. Portanto, não deverei tomar nenhuma decisão hoje. Decisões, mas os nossos atos são decisões, se eu for até a cozinha, será uma decisão, eu decidi, por conta própria ir até lá, se eu der um passo já é uma decisão. É, acho melhor passar o dia deitada. Deitada. É, está decidido, vou passar o dia deitada!

“Está decidido”?

Ah, droga, acabei de fazer uma decisão. Então o que eu vou fazer? Eu sabia que deveria parar de ler essas “sortes de hoje”, sempre me deixam horas pensando, e eu nunca imaginei que a expressão “tomar decisões precipitadas” me deixaria tão agoniada. Lembro quando a sorte dizia que teria uma carreira bem sucedida, fiquei tão feliz, eu nem precisaria mais estudar, enfim, minha carreira já estava garantida mesmo, pena que depois eu cheguei à conclusão que só estudando teria a tal carreira bem sucedida.

Geralmente não é só a “sorte de hoje” que me deixa pensando, o horóscopo também. Peixes, meu signo, hoje, por exemplo, disse para aprender a contar com a solidariedade dos outros, todas as pessoas do signo de peixes de todo o mundo estavam com o mesmo horóscopo que eu? Que saco hein, teremos que ficar dependendo da solidariedade alheia. Ou seja, hoje eu teria que não tomar decisão alguma e ficar esperando que alguém seja solidário comigo. Mas o que a pessoa solidária faria em prol de alguém não pode tomar decisão alguma? Oras, poderia tomar decisões para o incapacitado, no caso, a incapacitada, eu. Então vê se entendi, deverei seguir ordens, ou para soar mais sutil, deverei fazer exatamente o que o próximo desejar para o meu próprio bem. Sendo assim, não realizarei nada por vontade própria, e não terei personalidade por um dia. Chegando a conclusão que a “sorte de hoje” e o horóscopo do jornal que compro todas as manhãs, não estão me ajudando em nada, e só me prejudicando.

Porque eu continuo comprando esse jornal? Amanhã não irei comprar. Comprarei outro, experimentar novas coisas, afinal notícias são notícias, e espero que o horóscopo seja mais amigável. E sobre a tal sorte, vou parar de ler, elas acabam me trazendo muita dor de cabeça, e sempre chego uma conclusão que não me acrescenta coisa alguma, até diminui, como a de hoje, por exemplo. Ou quem sabe eu deva arrumar alguma coisa para fazer?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Decisão Capitalista.

Eu sei, a vida é feita de escolhas, fazemos escolhas o tempo todo, mas acho que as mais difíceis são as que vão mudar todo um futuro. Como dizer sim a uma proposta de casamento ou escolher a carreira profissional, e esta é exatamente a que estou tendo que escolher. O que fazer na faculdade?
Quando se é criança é tudo mais simples, nem o nome ‘faculdade’ é mencionado, apenas decidimos ser quando crescermos, e sempre são aquelas clássicas, como jogador de futebol, astronauta, professora, veterinária ou apenas rica. É eu queria ser veterinária, até que eu descobri que não ia dar muito certo e parei de pensar nisso. Acho que a partir daquele dia em que me desliguei da carreira veterinária parei de pensar em qualquer outra profissão e apenas almejava dinheiro, droga de sociedade capitalista em que nasci.
Só voltei a pensar com 14 anos, no auge da minha oitava série me preparando para os concursos de segundo grau, como escolas militares e técnicas, aliás, passei para uma escola técnica. Sim, me formarei como técnica em turismo este ano. Turismo, quando eu escolhi queria fazer biologia marinha e me tornar bióloga do IBAMA, nada muito a ver com turismo, mas minha escolha foi por ter a leve impressão que seria bem mais divertido do que mecânica ou eletrônica, e é, foi, está sendo.
E agora que estou com 17 anos, pré-término do segundo grau, pré-término do técnico, pré-dezoito anos, pré-faculdade?
Já escolhi direito, depois jornalismo, voltei para biologia, aí dei um pulo em publicidade, outro em desenho industrial, então voltei para o direito, jornalismo, direito, jornalismo e no momento nada.
Nada é uma ótima escolha.
Acho que permanecerei no nada, farei todas as provas do vestibular simplesmente sem propósito nenhum. Talvez no final de todas as carreiras tenha um quadradinho escrito “Outros”, dois pontos e uma linha a ser preenchida. Será o ideal, preencherei com: “Qualquer curso que minha nota se encaixe, fique à vontade.”.
Seria tão mais fácil se eu tivesse um talento para música, fosse uma exímia atriz, tivesse aprendido derivada com quatro anos ou ter nascido em uma família rica, milionária ou talvez bilionária, sem problemas. Com toda certeza não estaria nessa indecisão toda.
Deve ter mais 345.874.009 pessoas na faixa entre 16-24 anos que estão na mesma situação que eu, deveríamos nos unir, pra que eu não sei, mas deveríamos. Está bem, não deveríamos, seriam 345.874.010 (agora contando comigo) sem propósito algum, íamos piorar as coisas, deixa cada um em seu canto com suas indecisões.
Decidi.
Irei decidir na hora.
Quero ser rica, não sair do Rio de Janeiro, morar na Urca e respirar aquele ar todos os dias, andar de bicicleta, passear com o meu Labrador caramelo, ter um ateliê de arte, um estúdio, um namorado bonito... Enfim, esse é meu propósito!
Como chegar até ele eu não sei. Ainda.

Yzadora Monteiro