quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Alma, vendo.

(texto para o colégio, primeiro parágrafo de Veríssimo. "Decidi vender... procurava comprador?")

Decidi vender minha alma ao Diabo para ser uma mulher de sucesso. Logo me deparei com um problema prático: Como é que se fala com o Diabo? Em todos os exemplos que conhecia, da literatura e do cinema, o Diabo fazia o primeiro contato. O Diabo era o interessado, era dele a proposta para comprar a alma. Como deveria proceder quem tinha uma alma para vender e procurava comprador?
Ouvi falar sobre uns rituais, algo que tenha muito sangue, que, no caso, provavelmente será meu o envolvido. Deve haver outra forma de vender a alma, uma coisa mais atual, afinal estamos em um mundo globalizado. O próprio Senhor Lúcifer deve ter se modernizado, talvez haja um e-mail, um telefone ou qualquer outra coisa que não envolva meu sangue jorrando e formando palavras e frases em um pedaço de papel.
Eu tenho nervoso de tirar sangue para fazer exame, imagine para escrever um pergaminho dizendo que eu estou vendendo minha alma, radical demais para uma mulher da minha idade. Apesar de que se eu quero o sucesso, tudo vale. Minha definição de sucesso engloba vida profissional e amorosa, acho que tem que especificar, pensarei nisso mais para frente. Será que depois ele vem pessoalmente para algo mais informal? Tomara que não, eu não saberia o que usar, só tenho uma roupa preta, a que eu vou a todos os velórios, ele provavelmente vai reparar. Comprarei mais roupas pretas.
Deu tudo errado na minha aparente vida perfeita, a menina com boa aparência e formada em direito por uma excelente faculdade, terminará sua trajetória triunfante vendendo sua alma para o Diabo, dá até um filme se bobear. Eu, quando mais jovem, acabei sendo engolida pelo sistema, deixei de fazer jornalismo e me envolvi com a história de ganhar mais dinheiro com determinada carreira, mas foi exatamente o que NÃO ocorreu! Cadê o dinheiro? O mundo capitalista me envolveu e a fome de ser rica encheu meus olhos. Acho que vendi minha alma para o Senhor Lúcifer assim que me deixei levar por essas vontades mundanas.
E agora com 30 anos, me encontro mais uma vez fazendo uma nova oferta de alma. Vou pôr nos classificados, promovendo minha alma. O Diabo deve ler jornal nas horas vagas, caso ele tenha horas vagas, por que nos dias de hoje, com tanta coisa ruim acontecendo, ele deve até fazer hora extra. É tão complicado vender minha alma, bem mais do que imaginei.
Quer saber de uma coisa? Deixarei que o Diabo venha me procurar, enquanto isso viverei minha vidinha, tentando obter o sucesso sem nenhum tipo de ajuda alternativa, várias pessoas conseguem, talvez eu consiga também, o Bill Gates conseguiu... Se bem que às vezes eu desconfio que ele tenha feito algum pacto com o Diabo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Engolida pelo sistema.

Caí nas garras da Decisão Capitalista. Era o que eu mais temia, a minha pessoa engolida pelo sistema. E você se pergunta? Oh meu Deus, a Yzadora engolida pelo sistema? Sim, a Yzadora, eu, engolida pelo sistema. A expressão engolida pelo sistema é bem legal, acho que a repetirei durante esse textos mais vezes.
Enfim.
Quando você tem duas opções: Mar negro ou Mar cristalino, Lagoa da Coca-cola em Araruama ou Praia Grande em Arraial do Cabo, ver seus pés e onde você está pisando ou ir no mistério? O que você escolheria? Bem, eu escolhi o mar cristalino, a Praia Grande e saber onde eu estou pisando. Eu acabei me decepcionando comigo mesmo depois de ter feito a escolha.
Mas e daí? Cadê a parte de engolida pelo sistema? Calma, vou chegar lá.
Desde de pequenininha eu fui sendo direcionada para alguma coisa. Apesar de ter a liberdade de escolher, ou brincar de escolher, o que eu quisesse, no final, para o que eu estava sendo direcionada implicitamente acabou pesando. Eu ia pro escritório do meu avô, mas também brincava de professora; eu ajudava meu avô a bater petições, mas também desenhava modelos de roupa; eu procurava processos e os imprimia, mas também me fingia ser atriz de cinema. E eu nem percebi o quanto estava sendo influenciada, acho que nem quem me influenciou percebeu o que estava fazendo. Normal, faço várias coisas sem perceber também. Por exemplo, acabei de deixar o sistema me engolir e nem percebi.
Eu escolhi Direito na UFRJ. Pronto, falei. Pode falar: "Yza, você fez merda." ou "Você não nasceu pra isso.".
Agora já foi. Já foi e está ido.
"Ou tu entra nessa, ou tu morre de fome".
Ouvi isso em algum filme, me soou familiar. Quero ver no final, quando me tornar advogada e uma morta de fome, eu vou rir muito, mas muito mesmo. Tudo bem, muito não, é meio chato rir muito da própria desgraça, então rirei só um pouco, como se tivesse sido aquelas piadas de fim de tarde no Domingo.
"Faculdade é só um canudo".
É a boa, gosto de tomar as coisas de canudo. Muito mais simples. Se não houvesse o canudo, beber água de coco e suco de caixinha ia ser a pior parte do dia. Entendeu? Eu explico. Se não houvesse o canudo, no caso a faculdade, não beberíamos a água de coco ou o suco de caixinha, que aqui no caso representa desfrutar dos melhores empregos.
Ótima observação.
É foda, o sistema te engole fácil. E mesmo se eu fizesse Jornalismo, o sistema iria me engolir. Estou aqui hoje escrevendo em um blog, mas na frente eu estaria naquela mutreta recebendo dinheiro pra esconder fatos da mídia. Olha lá o sistema se alimentando da Yzadora Jornalista.
Eu só iria adiar um pouco o almoço do sistema.

Tudo bem, agora já tá feito, vou esperar o sistema me digerir pra vê se eu sou aproveitada ou caio na privada como Yzadora, a merda.