sexta-feira, 26 de junho de 2009

Nada muito diferente.

O letreiro vermelho luminoso me lembrava os motéis baratos do Brasil, de fato, não eram lembranças agradáveis. Já que estava lá, parada com meu vestido preto de bolinhas, nada muito anos 60, e meia calça, às 10pm; resolvi não deixar o passado tomar decisões e entrei. The Cavern Club. A única exigência era não encontrar espelho no teto; de resto, tudo seria lucro para a primeira noite em Liverpool.


Contrariando pensamentos previsíveis, eu não havia viajado para a cidade impulsionada por meus comprimidos diários dos Beatles; estava lá sem querer. Depois de uns infinitos goles só estava descabelada, com cinquenta libras entre meu seio esquerdo e o sutiã, e em Liverpool! Saldo positivo para uma noite de outono.

Lugar aconchegante,quadro andares abaixo ao solo, de tijolos e teto sem espelho; porém arredondado. Eu conseguia sentir o aroma de jazz na parede, mesmo estando claro que tudo é puro rock'nroll. Todas as pessoas, sem distinção de sexo e bebida, pareciam já ter lido a biografia de John Lenon. Me senti deslocada; nunca tive sequer a vontade de ter paciência para ler sobre a vida do João; 'brasileiramente' falando. Resolvi, ou minhas pernas resolveram por mim, sentar. A mesa tinha lugar para mais duas pessoas e, naquele momento, só tinha um amigo imaginário. Por isso o matei, ia ficar muito óbvio que tinha poucos amigos.

Havia um guitarra saltitando ao fundo todas as vezes que a bateria mandava, contrastando com a falta de originalidade daqueles que a sentiam/ouviam/viam/ignoravam. Meus ombros começaram a ficar descompassados, enquanto um ia para frente, o outro direcionava-se para trás; no ritmo da louca música de UK. Não vou mentir, aquilo tudo era bem melhor do que o Google poderia me oferecer.

Longe, avistei um homem de blusa social branca tentando se esconder atrás do colete preto. Segurava o copo de cerveja como se fosse o último diamante da noite, nunca gostei muito de diamantes e cerveja. Ele olhava compenetrado para o teto se agitando e gritando, da forma mais fiel que o gerúndio possa se expressar. Fiquei com inveja e saí daquela caverna.

Beijei de forma intensa o João de bronze, e coloquei o resto do dinheiro em outro sutiã bêbado.


6 comentários:

David Campbell disse...

é....érr....
tão surreal q li duas vezes pra entender direito!

bjs;*
(L)

Kas. disse...

cara muito bom, não entendi o final direito, mas achei muito bom o desenvolver da história
continue-a!

sempre pra frente, broto!

=**

Danilo Taveira disse...

Yza, parabéns por esse mais belo texto. Reiteirando, sabes usar bem as palavras e prender os leitores. Mas suas ideias ganham conotações de cada leitor, por isso são muito interessantes, cada qual pode interpretar de seu modo, e assim você faz jus ao nome do blog "Falando sozinha".

Uma vez mais, parabéns.

Beijo.

Pr. Cláudio Moreira disse...

Um vocabulário de devaneios...mas talvez tenha sido isso mesmo que a autora quis expressar.

Visite, quando puder:

http://sementesdevitoria.blogspot.com

CAMILA de Araujo disse...

HUEEUHEUHUEHEU
Nem preciso dizer que AMEI o conto,né?

Parabéns você pelo selo, você merece e não suma novamente.

www.indio-indie.blogspot.com

Camila Paula disse...

Rá nem digo que o seu conto me lembrou On The Road pq vc vai se achar, mas tá nas entrelinhas que eu disse isso okay?
Somo nozes no jornalismo ;)