quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bom dia, Sueli!

Acordar ao som do despertador era a última coisa que sonhava para minha vida madura. Este pijama azul pálido com botões mais escuros chega a ser quase um atestado de óbito para tudo que pretendia viver. Quando olho para o lado, dia após dias, me deparo com Sueli. Linda. Usa sempre esse pijama amarelo desbotado que combina perfeitamente com o tom de pele.

Sueli é dez anos mais nova; quando comparada a mim. Em certos momentos, chego a sentir pena por estar casada com um homem sem tempo até para reclamar das circunstâncias diárias. Morena, alta e exatamente com três dobrinhas formosas na barriga. Nossa! Eu fico louco com as dobrinhas de Sueli! Agora ela cismou de querer fazer dieta, as mulheres cismam com coisas desnecessárias. As dobrinhas são sensuais, cansei de falar isso para ela. Eu quero mais é ficar gordo, cultivar uma bela barriga de chopp e assistir a reprise do futebol enquanto admiro, no intervalo, minha beldade cozinhando um delicioso almoço dominical.

Assim que casamos, virávamos noites conversando sobre tudo. Colocávamos um bom disco na vitrola e apenas curtíamos todas as palavras que cada um despejava na sala escura. Isto não faz muito tempo: cinco anos atrás. Susu tem que decidir se terá filhos logo, estou ficando velho e os marmanjos do meu trabalho sempre mostram as fotos na carteira. Meu sonho sempre foi ter fotos na carteira.

“Este é o João, meu caçula. Garotão... Puxou o pai! Vai ser um grande jogador de futebol, flamenguista que só ele. Esta aqui? Suzana, meu camarada. Já viu olhos mais lindos que os dela? Iguais aos da mãe. Minha patroa caprichou na Suzana. O mais velho é Tiago. Só joga vídeo game, tenho que ensiná-lo a conquistar mulheres.”

Sempre achei que teria um filho gay, não sei o motivo. Quando era mais novo, sentava no telhado da casa de minha avó e idealizava todos os meus filhos: João, Suzana e Tiago. Nunca sequer conversei com minha mulher sobre ter filhos. Assim que ela abrir os olhos, proporei uma prática (...)

Péssimo pensamento! Se ela souber que me veio à cabeça algo do tipo é capaz de cortar minha cerveja. Até que não seria má ideia; cortar minha cerveja me daria mais vontade de me impor. Sueli me domina. Adoro ser dominado. Deve ser porque fui criado só por mulheres, verdadeiro terror. Minha avó gritava feito uma bruxa velha e minha mãe quase arrancava minhas orelhas. Ainda bem que saí daquela casa assim que completei vinte anos – de mãos dadas com meio metro de sonhos, que acabei por perder no caminho.

Sueli vive me dizendo que eu tenho que voltar a falar com elas. Aliás, Sueli vive me dizendo muitas coisas. Algumas até consigo absorver, outras seguem naturalmente para o lixo mental. Esta mulher não cala a boca, acho que é seu único defeito. São raros os momentos que perco a paciência, sei me controlar. Por exemplo, nunca disse a Sueli que precisa emagrecer e comprar um pijama novo. Aliás, puta que pariu, nem sei como consigo me controlar quanto a isto!

Passei cinco anos com esta mulher e não é nem de longe o tipo que imaginei para mim: fode mal, não sabe cozinhar, ronca e cheira a produto de limpeza. Frustrações na cama até dão para suportar, afinal, sexo é sexo. Mas comer aquele arroz cheio de cebola, ouvir o ronronar nada discreto e beijar um litro de desinfetante não dá. É difícil. Sairei do casamento pronto para canonização.

Apesar de que ser santo envolve certas abdicações, e estou farto delas. Quando mais novo, escrevia listas de realizações futuras; guardei a maior: cinqüenta e oito itens. Em anos, ela não aumentou e, muito menos, diminuiu. Preciso reencontrar meu meio metro de sonho e passear com ele por aí. Só eu e ele, sem Sueli. Vou tirar o pijama azul pálido e pedir o divórcio assim que esta mulher abrir os olhos!

9 comentários:

Victor Cas. disse...

Eu vi um pouco da música cotidiano do chico ai, mas so um pouco, até porque na música ele não pensa em divórcio (eu acho), não entendi qual é a do pijama do cara, alguma alusão a rotina dos filmes? hashuis

Gostei

Henrique disse...

Gostei mesmo!

O jeito como você escreveu este "cotidiano" é realmente fantástico, continue assim!

http://blogdossub15.blogspot.com/

Anônimo disse...

Querida amiga avassaladora... Amei o background, foi voce que desenhou? está lindo!
Quanto a Sueli, é bom ela acordar pois em breve não tera mais em quem mandar.

Tute Braga disse...

A gente pensa que controla tudo... mas nem sempre as coisas são assim...
As pessoas mudam, a gente muda! O problema é lidar com isso!
Adorei seu blog!
=)

Beijossss

Neuro-Musical disse...

Demais o texto. Retrata a vida de um homem frustrado que as vezes casou por obrigação e agora está arrependido. Tipíco homem brasileiro!

http://cerebro-musical.blogspot.com

CAMILA de Araujo disse...

Gostei do texto, Yzandra.
Há quanto tempo não passava por aqui.

Gostava mto das nossas primeiras conversas através da casa do besouro, lembro?

www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

Fabrício Bezerra disse...

eu fiquei com pena dessa sueli."acoooorda menina"

Unknown disse...

Olá!
Achei seu blog no blog do Danilo Oliveira, e que grata surpresa.

Passei boa parte da tarde por aqui e constatei uma crescente maravilhosa, você fica melhor a cada texto.

Parabéns. Estou te seguindo e não perco mais as suas atualizações. ADOREI!!!

Bjs.

Bruma Brum
http://dueloseduetos.blogspot.com

disse...

SUMIIDA!
CADE VOOCE?? D;

saudade dos seus posts !
quando voltar passa lá no meeu ^^
beeeijos ;*