sábado, 20 de setembro de 2008

Rolling Stones

Peguei a jaqueta jeans e saí. Não agüentava mais ficar apenas andando entre cômodos, precisava transitar entre ruas e avenidas. Na época, o ônibus ainda era um e noventa, bons tempos. Nunca havia pegado um ônibus no ponto final e saltado no outro extremo final, aquele seria o dia. General Osório seria meu destino, apesar do frio, precisava ir à praia.
Tudo tinha uma similaridade diferente. As pessoas riam, será que só eu não gostava de dias frios ou não entendi a piada? Trânsito intenso. Só tinha cinco reais no bolso, daria para voltar, embora a minha vontade fosse contrária. Demorei por volta de uma hora e meia para chegar a Ipanema, o trânsito não estava tão intenso assim. O sol abriu um pouco, tirei a jaqueta. Quantos meninos de rua. Não quero ficar segurando essa jaqueta. Uma criança dormindo no chão, difícil dizer se era menino ou menina. Dobrei a jaqueta e coloquei paralelo ao rosto dela, no chão. Andei em direção à praia.
Minha mãe vai me matar quando souber que a jaqueta, que insisti tanto ganhar no aniversário do ano passado, estava no chão da Praça General Osório. Dane-se. Azul gélido era a cor do mar, talvez essa cor não existisse, mas agora existe, porque havia acabado de inventar, era essa a cor do mar naquela tarde de terça-feira. Na beira do mar estava frio, senti vontade de voltar e pegar a jaqueta, mas não voltei.
Algumas pessoas estavam no mar; o Arpoador estava com ondas boas, algumas quebrando sozinhas, outras não. Fiquei olhando, só olhando. Esqueci de deixar um bilhete avisando que havia saído, minha mãe iria perceber, com certeza. Percebeu. A fumaça demorava a sair e jurei que aquele seria o último dia. Foi. O tempo fechou novamente, começou a chover dessa vez, não me importei, continuei olhando, só olhando. Até que não havia mais nada para olhar. Levantei e voltei para Praça.
Muita gente, correndo, falando alto silenciosamente. Esbarrei em um rapaz de terno, ele nem percebeu ou não se importou. Uma senhora aceitou minhas desculpas pelo esbarrão. Uma criança esbarrou, passou correndo para se esconder da chuva debaixo de alguma marquise talvez, olhei para trás. O bordado ‘Rolling Stones’ me pareceu familiar, a jaqueta jeans também. A minha jaqueta. A jaqueta daquela criança. Foi difícil ver se era menino ou menina. Todos estavam correndo; com a cara fechada, só eu ria.
Será que eles não entenderam a piada ou só eu que gosto de dias frios?