sábado, 8 de agosto de 2009

Dois goles de palavrão e uma cerveja.

Quando entrei na casa de Marcelo, me deparei com Luiza e João dividindo o sofá de couro marrom e bebendo cervejas enquanto riam alto por algum motivo que não fazia questão de saber. Marcelo olhava a rua através de uma janela de madeira que se recusava a fechar nos dias mais frios do ano. Sentei na cama, deitei na cama. Marcelo já era meu amigo há 3 anos e nunca vi aquele vagabundo procurar um emprego, Marcelo recebia cheques de seus pais que viviam no Rio de Janeiro e torrava tudo em cerveja e cigarro, nem para comprar algo de boa qualidade o infeliz prestava. João é um grande filho da puta, mas apesar de tudo não posso negar que a loucura dele era o que me mantinha ali, ainda, como se fossemos irmãos de sangue. Luiza trabalha no bar do tio, recebia umas cantadas de uns bêbados fiéis e cem reais por mês. Loira e alta, ela pecava só na falta de compostura; algo que não fazia tanta diferença dentro daquele apartamento.

As risadas dos dois abafavam os resmungos de Marcelo, que continuava olhando através daquele retângulo de madeira. Não dei a mínima pra tudo que estava acontecendo na sala, já estava cansada daquela vida ridícula em Brasília. Não fomos feitos para essa merda toda, essa maldita prisão ao ar livre. Fiquei olhando o teto com infiltrações enquanto recusava a cerveja oferecida por Luiza, Marcelo enfim resolveu mudar a direção do olhar e me acompanhou, contemplando o teto manchado. Ficamos ali na cama por volta de quatro anos ou quatro minutos, não sei ao certo.

João gritou pedindo liberdade, mas não moveu nenhum músculo do rosto para tal; Luiza o apoiou e subiu no sofá com os braços erguidos buscando a lua, que naquela hora deveria estar cheirando à sushi. Quando ouvi aquelas quatro sílabas saltei da cama e quebrei um estrado, Marcelo quebrou outro e se levantou também. Acho que a solidão que o teto se encontrava naquele momento abria a porta para saírmos, fui na frente e não reparei a ordem que me seguiram. Fomos ao banco e retiramos todo dinheiro que encontramos em nossas respectivas contas. Luiza ligou pro tio, Marcelo pros pais, João pra puta que ele se apaixonara e eu liguei pra casa de Marcelo, para conferir se o teto permanecia em silêncio.

Gastando o salário mensal de garçonete com cerveja, distribuindo a quantia dos cheques fraternais para os mendigo e gastando o amor antes disperdiçado, lá estávamos os quatro no Rio de Janeiro. Luiza agora é garçonete de outro bar, Marcelo mora na casa dos pais, João se apaixonou por outra puta e eu não conheço o significado de gratidão.

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