quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sobre 4 rodas.

Era hora de pôr em prática todos os planos antes planejados. O sol estava brilhando entre as nuvens e o vento servia como mais um impulso. As malas estavam prontas fazia um tempo. Não dormi pensando que aquele seria o dia, mas assim que abri os olhos percebi que havia chegado o momento. Peguei as malas, a chave do carro e saí, deixando apenas um bilhete que dizia: “Não se preocupe!”, mesmo sabendo que seria impossível pedir pela ausência da preocupação.

Já tinha 20 anos, no quarto período da faculdade de ciências sociais, que tranquei. Do lado de fora da minha bolha, parecia o mundo perfeito, mas, do lado de dentro, eu sentia que estava faltando algo. As manhãs amanheciam do mesmo jeito, as tarde se prolongavam e a única coisa que saía da rotina eram as noites, embora fato de sair da rotina sempre se tornou rotineiro.

Liguei o fusca que havia ganhado uma semana antes. Era exatamente como pedira: bicolor, modelo de 1968, do ano que não terminou, da Primavera de Praga, na antiga Tchecoslováquia, à decretação do AI-5, no fervor do Brasil. Aquele carro carregava consigo um ar de várias histórias percorridas e eu estava querendo fazer mais uma, duas, três, quatro, quantas fossem possíveis.

Ouvia muitas pessoas dizendo entre goles de café e destilados sobre percorrer o mundo, mas colocavam a culpa na falta de capital; percorrer a Europa, não tinha justificativa para lá, não economizavam elogios para o metrô, para a estrutura e tudo que todos sabem que o continente possui; e por fim, percorrer a América Latina, mas a falta de tempo atrapalhava. Chega um momento que cansamos de ouvir ou concordar, e decidimos fazer.

Comprei um caderno uns quatro meses atrás, que agora estava cheio. Na capa, 'Sobre 4 rodas' , no interior, lugares e mais lugares preenchiam as páginas. Parecia um caderno de uma criança de dez anos, com colagens e anotações. O que o diferenciava de um caderno infantil é que tudo iria vir a acontecer e sairia daquelas páginas bagunçadas.

Partindo do Rio de Janeiro já estava decidido seguir para o sul pela costa verde. Não sei bem o motivo de começar por baixo, acho que é mania. Coloquei umas músicas novas no mp3, para, talvez, combinar com minha nova fase e emudecer o silêncio da viagem. Preferiria não estar indo sozinha rodar o Brasil.

Passei um bom tempo convidando amigos para me acompanharem pelo Brasil, mas todos só sabiam achar obstáculos. Ao invés de colocarem a culpa em suas próprias inseguranças, os culpados eram: a faculdade, família, o estágio, dinheiro, namorado; já estava cansada de ouvir os argumentos fracos e comuns. Demorei pra me dar conta que se ficasse esperando alguém no banco ao lado não iria tão cedo. Mas por fim, me dei conta e comecei a por em prática a página um do caderno naquele dia em que o sol brilhava entre as nuvens e o vento servia como impulso.

9 comentários:

Marina disse...

Inspirado em 'Caminho das Índias'? hahaha, brincadeira!! já te disse que não sabia que você tinha esse dom pra escrever, ficou muito bom :) continue assim! [professora de 4ª série falando]

Anônimo disse...

A chuva não me dá inspiração, eu acho. Prefiro quando o sol tá brilhando assim como o vento servindo de impulso. Aprendi a não esperar alguém sentar do meu lado, até porque, me atrapalharia e eu não conseguiria escrever... Nesses momentos, ter alguém atrapalha.

ps: você tem 20 anos mesmo?

Felipe Lucchesi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Felipe Lucchesi disse...

Dizem que sempre tudo começa por baixo,porque daí só tende a subir,crescer.Até na hora de cortar o bolo falam isso.

João Viana disse...

uma pergunta: "1968, do ano que não terminou" li isso em um livro, queria saber, porque não terminou? o.O
volta a coisa, do titulo do seu blog, falando sozinha, tem vezes que estar sozunha é melhor que estar acompanhado!
suahusahushas meio viajante neh?
gostei do post!

http://joaovitors.blogspot.com/

;]

Leire disse...

Parece uma daquelas histórias do movimento beat. Achei bem legal a organização do texto, palavras elaboradas e colocadas de um modo legal e referências ao ano de 1968 como se o fusca pudesse ser um contador de histórias!

Grande abraço!

Anônimo disse...

Boa tarde mocinha!

É um texto muito bom.

Você conseguiu ser descritiva ao ponto de fazer o leitor 'visualizar' o espaço,mas sem ser 'Machadiana', isso deu muita qualidade ao teu escrito.

Fusquinha bicolor (pintura "Saia e Blusa") fica um charme. Combinou com o clima da tua viagem, com o caderno rabiscado, com os teus sentidos...

Gostei muito daqui!

Kiso
=*


http://garotapendurada.blogspot.com/

Ricardo Thadeu (Gago) disse...

Bom texto. Meio... "irresposnsável até as ultimas circunstâncias" , mas gostei.

Nat Valarini disse...

Bom dia!

Concedi um selo ao teu blog.

Passe lá no 'Garota Pendurada' para resgatar.

Kiso!

http://garotapendurada.blogspot.com/