quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Os cinco sentidos.

Eu sem querer havia arranjado um novo alguém. Fugiu do comum, fugia do comum.
Eu sabia o nome dele, ele sabia o meu. Nós nos falávamos através dos dedos, digitando. Somente. Quando nos víamos, fingíamos não nos conhecer. Mas eu o conhecia, ele me conhecia, mas deixamos isso em segredo, até para nós.

Não nos olhávamos; com o tempo começamos a nos olhar, nos observar.
Nossos olhos castanhos se encontravam à noite e paravam por alguns segundos para conversar. O que conversavam? Não sei, fui incapaz de descobrir até hoje.
Tenho dúvidas se aquela época era melhor ou não. Talvez não fosse necessário ter aprendido a falar.

As palavras começaram a surgir. Eram poucas, insignificantemente com valor. Não haviam substituído os olhares e as conversas digitadas. Ainda. Tínhamos vergonha, talvez, ou receio. Porque parecia tão difícil com ele? Porque parecia tão difícil comigo? São perguntas sem resposta.
As palavras aumentaram, as conversas digitadas ficaram raras. Raras em seu melhor sentido. Os olhares são apenas olhares, como qualquer outro. Agora os mesmos segundos que antes se enchiam de diálogos, não fazem mais sentido, estão em silêncio. Diálogos preenchidos com palavras sonoras. Parecia que tudo estava se tornando mais concreto. Apenas parecia.

De repente conhecemos o toque. O carinho na cabeça, a luz baixa e a sensação de conforto, lembro-me bem. Nossas mãos se tocavam do jeito mais malicioso que ingenuidade possui e as pernas se confundiam entre si. De uma forma nostálgica conversávamos pelos dedos novamente, mas eram expressões de saudade, do tipo que vem e vai embora. Os convites eram constantes, a negação também. Negação sem razões convincentes, parecia que toda a vontade dos dias úteis era nula em dias inúteis. O desgaste do tempo surtia efeito. Envelhecemos. Os diálogos sonoros estavam mudos e surdos, os toques eram mais fracos, os olhares estavam cegos e as conversas digitadas foram esquecidas.

A fragrância, deixada no pulso em uma das noites, me fez inalar vontades que não passaram disso.

Experimentamos juntos, sentidos. Visão, audição, tato e olfato. Paramos por aí. A velhice nos chegou rápido, aproveitamos superficialmente as vivências, não nos restou tempo para experimentar do paladar. Vergonha, receio ou falta de real vontade. Somos dignos apenas de quatro sentidos e não cinco.

9 comentários:

Filipe Oliveira disse...

esse foi pica... dura ainda por cima
=D

Anônimo disse...

entendo?

Unknown disse...

Gostei... Coisas de amor em tempos de tecnologia... Não é coisa do meu tempo, mas achei mt bonito.

Unknown disse...

Tesão puro o texto.kkkk Muito bom.

Anônimo disse...

Adorei. Esse texto ta inteligente e profundo. Ants eu achava q devia continuar a historia, terminar o ultimo sentido, mas agora... não, não acho mais. Não vale a pena. =)
Comentário sincero.

Jim disse...

você tem talento

Admin - Blog Web Dicas disse...

Muito bom o texto, foi profundo e inteligente como disse a mel,
tá de parabéns!

visita?
http://www.webdicas.org

Tiago Cervo disse...

Texto legal, muito inteligente.

grande abraço

http://ccdodia.blogspot.com/

Anônimo disse...

nada nunca em hipotese alguma vai substituir o olhar no olhar...abraço.