terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bancos azuis.

Já estava acostumada em ser superficial, essa palavra soa um pouco forte, mas era exatamente assim que agia, só tendo o cuidado em deixar a superfície agradável para as circunstâncias. E por mais que não parecesse, eu começava a ficar incomodada em cultivar o vazio por dentro sem aparentar claras preocupações.

Enquanto seguia minha rotina, me sentei em um dos bancos azuis no bosque do parque e pude perceber que em cada um daqueles bancos eu guardava uma lembrança em particular.
Lembranças de risadas que me deixaram surdas e de lágrimas que me emudeceram, durante a minha juventude. Quando parei de encarar os bancos, minha cabeça pesou para trás, me obrigando a encarar os raios solares que rasgavam as copas das árvores, o que me deixou cega.

Fazia tempo que não voltava ao bairro que me viu crescer, muitas casas haviam mudado de cor, as ruas faziam mais barulho e as pessoas andavam com fones em seus ouvidos, não aproveitando o canto dos passarinhos, que hoje já quase não se dá para ouvir.
Foi exatamente ali, naquela praça de bancos azuis, que aprendi a andar, que apreciei fogos de artifício quando os anos viravam, foi naquele banco, do lado do pipoqueiro, que descobri pela primeira vez como era o toque de dois lábios, o parque me remetia lembranças de Laurinha.

Sinto saudades de Laurinha, menina de cabelos longos, ondulados e castanhos olhos mel, que mudavam de acordo com a luz, ou até mesmo com seu humor. Laurinha ria da vida, queria abraçar o mundo e conhecer pessoas diferentes.
De fato, Laurinha, com sua perseverança, conseguiu tudo o que queria, aparentemente. Hoje é uma renomada promotora, mora em um bairro de classe alta e tem sempre o carro do ano em mãos. Garota de sorte. Sinto saudades de Laurinha.

Lembro-me do jeito que andava pelas ruas, sempre muito simpática, no baile da escola, com aquele vestido azul com laço atrás, os sapatos brancos, muito brilhantes, as duas tranças que fazia aos domingos para ir à igreja com a avó, das histórias inventadas que contava para as crianças mais novas, dos seus ideais mais profundos.
Ser superficial me incomoda sempre quando lembro de Laurinha, ela era tão cheia de alegria em tudo que fazia.

A luz que atravessava as copas me conduzia por um passado, que eu jamais queria ter esquecido; pessoas que eu jamais pretendia perder o contato, umas que jurei amizade eterna, que hoje, não sei por onde estão, preciso arranjar um tempo para saber notícia de alguns e com certeza achar a Laurinha de novo.

Não queria ter deixado Laurinha para trás e ter me tornado Dra. Laura de Alencar em tempo integral. Gostava quando as vozes de amigos e familiares me chamavam de Laurinha.

6 comentários:

Anônimo disse...

pelo menos essa eu nao preciso perguntar se é ficcçao ou realidade

Anônimo disse...

...de novo...genial!
saudades...se cuida moça!

Unknown disse...

Me leva nesse bosque?!

=)

Beijos

Anônimo disse...

¬¬'

Anônimo disse...

Mudam se os tempos, mudam se as vontades,
muda se o ser, muda se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía*.
(Luis de Camões)

* costumava

Anônimo disse...

intimista vc hein...por acaso és a reencarnação de Clarice Lispector?

hahaha

bjin