quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Açúcar cristalizado.


Desde que me formei em turismo e tirei a carteira de guia, ando pelo Rio de Janeiro contando histórias e mais histórias sobre cada pedaço que se pode imaginar. Os turistas têm a terrível mania de achar que nós, guias de turismo, sabemos tudo. Geralmente as perguntas são simples e até dá para responder, mas sempre tem um indivíduo que quer saber o nome do sujeito que colocou o primeiro tijolo da Catedral Metropolitana, ou coisas do tipo.

De cativantes senhoras aposentadas que fazem amigo oculto às crianças que aguardam ansiosamente o final para cantar: “Ô motorista, meus parabéns, foi e voltou sem matar ninguém”. Mas nada me incomoda mais do que aqueles que crêem saber de tudo, até o nome de quem pôs o primeiro tijolo da Catedral Metropolitana.

Na maior parte das vezes saio viva depois de um dia com esse tipo de gente, mas naquela segunda-feira queria sair mais que apenas viva. Regra cinco dos guias de turismo: jamais dê informações falaciosas. Nunca gostei muito do número cinco mesmo.

Segunda-feira, 10h da manhã. Pão de Açúcar. Três rapazes cheios de si e eu.
“Bom dia, estamos aqui no Pão de Açúcar, que é um marco natural, histórico e turístico da cidade do Rio de Janeiro. Há várias versões históricas a respeito da origem do nome Pão de Açúcar. Segundo historiadores, foram os portugueses que deram esse nome, pois durante o apogeu do cultivo... pois durante o apogeu do cultivo...”

Era aquela minha chance, eles me olhavam com cara de superiores como se soubessem que foi no apogeu do cultivo da cana-de-açúcar. Óbvio que seria no da cana-de-açúcar, mas acho que queria provar para mim, que eles eram apenas arrogantes, e só.

“... pois durante o apogeu do cultivo da cana-de-açúcar, os senhores de engenho costumavam vir aqui para passar algumas horas com suas amantes. Por ser um local alto e de difícil acesso na época, era perfeito para se esconderem e admirarem a vista da Baía. Certo dia, o Senhor de Engenho, Pedro Colombo, subiu ao morro sozinho.”

Adorava ver a cara deles de que já sabiam sobre tudo aquilo que eu estava falando.

“Naquele dia, ele carregava consigo pães confeitados por sua mãe, a maior confeiteira do Rio de Janeiro, aliás, a Confeitaria Colombo pertenceu à família de Pedro. Assim que atingiu o local que sempre ia com suas amantes e seus amantes, sim, Pedro mantinha relações sexuais com amantes do mesmo sexo; ele se pôs a admirar a bela vista que estamos contemplando neste momento.”

Os três olharam para o horizonte com cara de paisagem.

“Havia uma lenda sobre uma Fênix, o pássaro que ressurge das cinzas, que aparecia todos os dias às seis horas da tarde, para expulsar todos que no morro estavam e o guardar por doze horas, pois o local a pertencia. Hoje, quando o sol alcança o seu zênite - ao meio dia - no Rio de Janeiro, aqueles que se dispõem a olhar para o Morro do Pão de Açúcar a partir da Marina da Glória, poderão ver projetada neste morro a imagem, em forma de sombra, da tal Fênix.”

A feição deles era ligeiramente intrigante, a vontade de rir era inevitável, mas a de continuar com a história era maior.

“Pedro esticou a toalha e começou a comer seus pães confeitados. Como naquela época, o uso do relógio não era muito comum, Pedro se esqueceu da hora enquanto admirava a vista e saboreava os pães com açúcar cristalizado. Quando deu seis horas, a Fênix apareceu raivosamente para Pedro. Muito inteligente e amigo dos animais, ele a ofereceu um dos maravilhosos bolinhos, o que fez com que a Fênix se tornasse sua amiga. Desde aquele dia, os senhores de Engenho poderiam virar as noites com suas amantes entre o morro e as estrelas. Pedro foi reconhecido como grande herói e o pão de açúcar cristalizado de sua mãe, se tornou grande atrativo na cidade.”

Três rostos impressionados.

“No começo, o morro foi chamado de pão de açúcar cristalizado, mas depois se tornou somente: Pão de açúcar. Que permanece até hoje. Bom, essa é a história da origem do nome deste ponto turístico. É apenas uma das versões, existem outras, mas eu conto em outra oportunidade.”

Quem precisa da regra cinco?

6 comentários:

Kas. disse...

Mermão, se tu inventou essa história na hora e não riu, parabéns. Eu teria me mijado de rir cara, a não ser que essa versão exista mesmo ahuishauihs
mas enfim, muito bom cara

Unknown disse...

Então nem quero saber a origem do nome da Praia da Macumba....

Anônimo disse...

entendi,
mas eu preferia a primeira versão

Anônimo disse...

hehehehe

Muito boa!!

Parabéns!

:)

Anônimo disse...

Nossa.....uhauhauahauhau, vc é muito boa nisso, deveria escrever um livro......excelente...Parabéns...Bjs, te adoro filha....huahuahuahauh

Unknown disse...

vc se aproveitou da nobreza dos gringos, como dizia o Chapolim.
Eles deviam ser portugueses
aqauquauqa

quauquauqauqua