terça-feira, 28 de outubro de 2008

Quem jura mente. E quem promete?

Domingo, 26 de Outubro.
Ao invés de ir ao Maracanã, os cariocas foram votar, tirando os 20,25 % que decidiram não exercer este direito. O que me surpreende é, que depois de tanta luta, 927.250 pessoas não reconhecem a importância que a votação tem. Não estou aqui para dizer quem deveria ser eleito e quem não deveria, embora não esconda meu descontentamento. O que me resta agora é torcer para que o novo prefeito seja realmente responsável e consiga levar o Rio de Janeiro para frente.

Segunda, 27 de Outubro.
Nem um pouco conformada. O jornal O GLOBO tem como capa o novo prefeito e a manchete: "Diferença de 55 mil votos dá a Paes o desafio de unir o Rio". Unir o Rio.
Paes dedicou a vitória a Cabral e Lula, se eu tivesse votado nele me sentiria mal, devia ter dedicado aos eleitores.
Passei a segunda me lamentando pelo o acontecido, procurando promessas e as anotando, para mais tarde poder cobrar. Cortei aquele quadrado de cor pastel que veio no globo, onde tinham 39 promessas do novo Prefeito, e pus na geladeira. Hoje de manhã não estava mais lá.

Terça, 28 de Outubro.
Não li o jornal, mas a notícia acabou chegando até a mim. A manchete: "Eleito, Paes descumpre promessa e abre governo a partidos aliados".

1ª: Falou que não iria fazer nomeações políticas, mas ontem fez uma reunião fazendo divisões de cargos;
2º: Anunciaria primeiro o secretário da saúde, mas anunciou o futuro chefe da casa civil;
3º: As primeiras UPAs seriam no Méier e em Madureira, mas as duas primeiras serão na zona oeste.

Promessas descumpridas, que, talvez, não façam tanta diferença. Quando comentei com minha mãe, ela apenas disse que ele estava vendo as prioridades. Se a prioridade é descumprir o que antes foi cumprido para a melhoria do município, que seja feito.

Três, apenas três com dois dias sendo chamado de ''o próximo prefeito do Rio''. Espero que quando ele começar a ser chamado de ''prefeito do Rio'' ele não resolva descumprir mais.

Vou procurar o quadrado de cor pastel e recolocá-lo na geladeira.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bancos azuis.

Já estava acostumada em ser superficial, essa palavra soa um pouco forte, mas era exatamente assim que agia, só tendo o cuidado em deixar a superfície agradável para as circunstâncias. E por mais que não parecesse, eu começava a ficar incomodada em cultivar o vazio por dentro sem aparentar claras preocupações.

Enquanto seguia minha rotina, me sentei em um dos bancos azuis no bosque do parque e pude perceber que em cada um daqueles bancos eu guardava uma lembrança em particular.
Lembranças de risadas que me deixaram surdas e de lágrimas que me emudeceram, durante a minha juventude. Quando parei de encarar os bancos, minha cabeça pesou para trás, me obrigando a encarar os raios solares que rasgavam as copas das árvores, o que me deixou cega.

Fazia tempo que não voltava ao bairro que me viu crescer, muitas casas haviam mudado de cor, as ruas faziam mais barulho e as pessoas andavam com fones em seus ouvidos, não aproveitando o canto dos passarinhos, que hoje já quase não se dá para ouvir.
Foi exatamente ali, naquela praça de bancos azuis, que aprendi a andar, que apreciei fogos de artifício quando os anos viravam, foi naquele banco, do lado do pipoqueiro, que descobri pela primeira vez como era o toque de dois lábios, o parque me remetia lembranças de Laurinha.

Sinto saudades de Laurinha, menina de cabelos longos, ondulados e castanhos olhos mel, que mudavam de acordo com a luz, ou até mesmo com seu humor. Laurinha ria da vida, queria abraçar o mundo e conhecer pessoas diferentes.
De fato, Laurinha, com sua perseverança, conseguiu tudo o que queria, aparentemente. Hoje é uma renomada promotora, mora em um bairro de classe alta e tem sempre o carro do ano em mãos. Garota de sorte. Sinto saudades de Laurinha.

Lembro-me do jeito que andava pelas ruas, sempre muito simpática, no baile da escola, com aquele vestido azul com laço atrás, os sapatos brancos, muito brilhantes, as duas tranças que fazia aos domingos para ir à igreja com a avó, das histórias inventadas que contava para as crianças mais novas, dos seus ideais mais profundos.
Ser superficial me incomoda sempre quando lembro de Laurinha, ela era tão cheia de alegria em tudo que fazia.

A luz que atravessava as copas me conduzia por um passado, que eu jamais queria ter esquecido; pessoas que eu jamais pretendia perder o contato, umas que jurei amizade eterna, que hoje, não sei por onde estão, preciso arranjar um tempo para saber notícia de alguns e com certeza achar a Laurinha de novo.

Não queria ter deixado Laurinha para trás e ter me tornado Dra. Laura de Alencar em tempo integral. Gostava quando as vozes de amigos e familiares me chamavam de Laurinha.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Nem isto, nem aquilo.

Não quero mais ouvir lágrimas, nem palavras duras, ouvir que a decepção é constante e que a ingratidão é o meu presente. Não quero mais sentir distâncias próximas, não quero me esconder diante do que todos conseguem ver. Quero abraçar o mundo, dizer quanto eu o amo, quero pedir desculpas e receber o perdão, quero ouvir qualquer obrigado que me conforte ou qualquer palavra que me apoie ou qualquer olhar que me console. Os dias andam devagar e com dificuldades, mas quem é capaz de ajudá-los?
Talvez eu realmente esteja errada e não reconheça os fatos, mas, por favor, não bote a culpa em mais ninguém. Deixe que os outros sejam aliviados de receber fardos que não os pertencem, eu sim mereço.
Merecer. Posso fingir que mereço, pois reconhecer ainda não pude alcançar. Fingir para ofertar um conforto à maioria. Pedir desculpas não surtem efeito, embora sejam fruto de mais pura sinceridade.
Mereço ouvir lágrimas e palavras duras, que a decepção é constante e que a ingratidão é meu presente. Mereço sentir vergonha da realidade e não compartilha-la com ninguém, e ainda mereço ouvir que desfruto de conselho mal intencionado, mesmo não tendo nenhuma.
Não quero ouvir sobre entes que deveriam ser próximos, nem sobre os que são próximos, mas deveriam estar longe.
Embora mereça.
Quero balbuciar desculpas, mas elas são abafadas pelos momentos inoportunos. Talvez não queiram ouvir também.

Que bom que inventaram os fones de ouvido e as músicas, o algodão e o dedo não são tão eficientes.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

50 anos depois.




Eu adoro aparecer. Eu descobri isso ontem quando repeti pela centésima vez a minha frase preferida: "Conterei isso para os meus netos".

Meu Deus, como eu sou exibicionista. Qual a necessidade de contar tudo que eu faço de legal para os meus netos? Nenhuma. Apenas colocarei inveja neles, ou não. Eles talvez não achem tanta graça no que eu considerei legal em 2008, tudo vai estar ultrapassado. Minha avó achou legal quando brincou de amarelinha na chuva escondida de sua mãe, já eu...

E sinto que isso é o que irá acontecer comigo. Contarei toda empolgada que com 17 anos achei super emocionante beber em uma rua qualquer com os amigos no dia de Cosme e Damião. Talvez eles olhem pra mim e digam: "Vovó, isso não tem tanta graça assim, o bom mesmo é se teletransportar pro foguete porto da Petrobras."

E do jeito que a tecnologia anda se avançando, eu não sou capaz de duvidar de nada. Tenho que parar de querer aparecer para crianças que nem nasceram ainda e apenas viver. Parar também de achar que serei uma avó super moderna, pois daqui à cinquenta anos a modernidade de hoje estará ultrapassada. É triste pensar assim, mas...

Pronto, não farei mais planos para envelhecer modernamente e nem para ser uma avó contadora de histórias emocionantes de uma adolescência não tão emocionante. Acabarei não fazendo bolo de sorvete, e sim bolo de milho.

O problema é: eu adoro aparecer.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Os cinco sentidos.

Eu sem querer havia arranjado um novo alguém. Fugiu do comum, fugia do comum.
Eu sabia o nome dele, ele sabia o meu. Nós nos falávamos através dos dedos, digitando. Somente. Quando nos víamos, fingíamos não nos conhecer. Mas eu o conhecia, ele me conhecia, mas deixamos isso em segredo, até para nós.

Não nos olhávamos; com o tempo começamos a nos olhar, nos observar.
Nossos olhos castanhos se encontravam à noite e paravam por alguns segundos para conversar. O que conversavam? Não sei, fui incapaz de descobrir até hoje.
Tenho dúvidas se aquela época era melhor ou não. Talvez não fosse necessário ter aprendido a falar.

As palavras começaram a surgir. Eram poucas, insignificantemente com valor. Não haviam substituído os olhares e as conversas digitadas. Ainda. Tínhamos vergonha, talvez, ou receio. Porque parecia tão difícil com ele? Porque parecia tão difícil comigo? São perguntas sem resposta.
As palavras aumentaram, as conversas digitadas ficaram raras. Raras em seu melhor sentido. Os olhares são apenas olhares, como qualquer outro. Agora os mesmos segundos que antes se enchiam de diálogos, não fazem mais sentido, estão em silêncio. Diálogos preenchidos com palavras sonoras. Parecia que tudo estava se tornando mais concreto. Apenas parecia.

De repente conhecemos o toque. O carinho na cabeça, a luz baixa e a sensação de conforto, lembro-me bem. Nossas mãos se tocavam do jeito mais malicioso que ingenuidade possui e as pernas se confundiam entre si. De uma forma nostálgica conversávamos pelos dedos novamente, mas eram expressões de saudade, do tipo que vem e vai embora. Os convites eram constantes, a negação também. Negação sem razões convincentes, parecia que toda a vontade dos dias úteis era nula em dias inúteis. O desgaste do tempo surtia efeito. Envelhecemos. Os diálogos sonoros estavam mudos e surdos, os toques eram mais fracos, os olhares estavam cegos e as conversas digitadas foram esquecidas.

A fragrância, deixada no pulso em uma das noites, me fez inalar vontades que não passaram disso.

Experimentamos juntos, sentidos. Visão, audição, tato e olfato. Paramos por aí. A velhice nos chegou rápido, aproveitamos superficialmente as vivências, não nos restou tempo para experimentar do paladar. Vergonha, receio ou falta de real vontade. Somos dignos apenas de quatro sentidos e não cinco.