domingo, 19 de abril de 2009

Hora de mudar, ou não.

Todas as vezes que olho para a rua vazia e iluminada artificialmente me dá vontade de gritar. E assim fiz, grito, gritei até que minhas cordas vocais começassem a pedir silêncio. Voltei para casa. Acendo alguns cigarros e os deixo queimando sozinhos, gosto de vê-los em solidão conjunta se desfazendo. Só fumo porque combina com café.

Me afoguei na cama e fito o teto pálido, tremo de calor e sinto meu coração no ritmo de Heart in cage. Cada segundo que passa eu derramo mais e mais adrenalina que não cabe mais em meu corpo. Pego a garrafa que está debaixo da cama, só quero beber o resto da vodka. Essa noite vou queimar todas as crianças que ainda persistem dentro de mim. O barulho do fogo está alto, e eu canto junto sem prestar atenção no que digo, já não importa. Meu quarto está em chamas! Eu me sinto melhor quando estou no fundo do poço, acredite. Tudo soa bem agradável depois.

Caminho com os olhos cerrados até o banheiro e só os abro depois de lavá-los na pia branca. Encarar o vazio do globo ocular é excitante, fiquei mais quente ainda. Tem alguém batendo na porta, escuto de longe; havia alguém esmurrando a porta, senti de longe. Lara, com certeza.

Porra, já falei para essa garota sair do meu pé.

Olhei para a porta e imaginei Lara,vestida com aquele jeans surrado e camisa branca lisa, esboçando um sorriso inocente e apertando os olhos com malicia. Ela só quer um pouco mais de diversão, mas odeio dividir meus ecstasy pessoal. Que horas são? Abri a porta, não há ninguém. O corredor verde musgo é deprimente, quando volto a visão para o apartamento vejo as paredes escorrendo e o chão borbulhando. A fumaça e o calor está me sufocando.

Que horas são?