Pobre, viado, macumbeiro e maconheiro. Era tudo do
desprezível em uma pessoa só. Bagagem demais pras costas cansadas, é ser humano
demais em um corpo divino. Eu deveria sentir pena, mas só consigo achar
natural. Vida. Morte. Não é pra isso que viemos ao mundo? Viver para morrer?
Alguns apenas decidem parar de enrolar, parar de acordar cedo, tomar banho,
comer, pagar o aluguel. Alguns decidem o fim. Sortudo é aquele que sabe
escolher o fim.
Ex-presidiário, ex-cristão, ex-traordinário, ex-querda. A
gente só entende o sentido quando muda a direção, quando anda ao contrário. Se
for pra ser livre, só sendo preso pra entender a liberdade. Se é pra abnegar-se
dos pecados, só pecando pra receber o perdão. Pra alcançar o extraordinário, é
preciso ser ordinário. Pra chegar do lado esquerdo, tem que passar pelo
direito. É tudo assim: dual – com dois lados. Sim e não, bom e ruim, grande e
pequeno, vida e morte.
É preciso perder pra dar valor, não é isso? Ele perdeu.
Perdeu emprego, perdeu família, perdeu amigos, perdeu esperança, perdeu o
equilíbrio, perdeu-se de si. É engraçado quando a pessoa só quer achar e só faz
perder – a gente sabe que é sem querer. Mas de tanto negar o querer, acabou
querendo. Ele quis parar de sorrir, parar de abraçar, parar de cantar, parar de
se entregar, parar de se expor, parar de viver.
Sem teto, sem foda, sem santo, sem droga e, agora, sem vida.
O Zé Ninguém, virou o Zé Suicida.
Um comentário:
- Gostaria que isso não tivesse acontecido no meu tempo.
- Eu também,como todos os que viveram isso. Mas a decisão não é nossa. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
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