Elmo. Sr. Noel,
os filmes de natal começaram a encher os canais de televisão, lojas estão fazendo promoções que promovem filas, árvores estão sendo montadas e pisca-piscas estão sendo ligados às tomadas; acho que chegou a hora de escrever uma carta. Faz tempo que não escrevo uma, então estou meio sem jeito.
As coisas andam muito complicadas, ainda mais agora com essa crise toda. Depois de vinte e nove achei que eles não deixariam isso acontecer novamente, mas tudo bem, nenhum sistema é perfeito, ainda mais um que trabalha com créditos. Por isso eu venho por meio desta solicitar coisas simples.
Não se preocupe, já tenho uma bicicleta. Aliás, para que baixar o IPI dos carros e estimular sua venda? Carros e mais carros... As ruas estão cansadas de se sentirem cheias e congestionadas. Percebo isso. Sem contar com a poluição, assunto clichê, nem perderei tempo falando, e o abismo social que as caixas móveis ressaltam. Motoristas e passageiros vivem o primeiro mundo de seus automóveis, enquanto malabaristas urbanos, vendedores de balas e pedintes permanecem em um terceiro mundo paralelo, separados apenas por um pouco de aço, alumínio, ferro, plástico, vidro e borracha. Deviam estimular a venda de bicicletas.
As sete, de uma terça-feira, escutei no rádio um outro Elmo. estimulando o consumo. A justificativa era simples: “Vamos consumir, você realiza o seu sonho e gera empregos.” Bela frase, dependendo do referencial, pena que maioria desliga quando começa o horário do Brasil. As pessoas andam muito pouco engajadas. Longe de mim, tentar deixar subentendido que todos agora deveriam fazer passeatas, ler os direitos humanos ou escrever dezenas de cartas para o presidente ou coisas do tipo. Apenas quis dizer que deveriam procurar saber o que tem além de seus próprios círculos de área piR ao quadrado. As relações inter-pessoais e inter-culturais seriam bem mais interessantes.
Gostaria de não estar fazendo um monólogo e sim ouvindo a voz de leite com biscoito que imagino que o senhor possua. Então vou logo para os pedidos:
- Se aposente. As crianças estão esquecendo que o Natal não é só ganhar presentes e escrever cartinhas, que tem todo uma subjetividade nele. Quando o senhor não aparece é meio decepcionante, por isso se aposente. Prometo que continuarei contando histórias ao seu respeito. Tudo bem, não precisa se aposentar, apenas conte toda a verdade!
- Pare de dar somente brinquedos e coisas materiais. Leve um sorriso pro menino que fica ali na Rua Bela Vista, o malabarista urbano, ele tem talento; outro para o moço que fica sentado em frente ao colégio República do Peru, sempre tão entediado; e um abraço para a menininha ali da Tijuca, perto do Colégio Militar, ela é só um bebê. Se possível, lhes dê uma família.
- Meu último pedido. Quando for jogar esta carta fora, lembre-se: o lixo azul que é o de papel.
Beijos.
Ass: Yzadora, que por um momento voltou a ter 6 anos, só que dessa vez não pediu uma fita do Latino.
P.s.: Desculpe se fui piegas, culpa da época.