sábado, 9 de junho de 2012

Zé Vida, Zé Morte


Pobre, viado, macumbeiro e maconheiro. Era tudo do desprezível em uma pessoa só. Bagagem demais pras costas cansadas, é ser humano demais em um corpo divino. Eu deveria sentir pena, mas só consigo achar natural. Vida. Morte. Não é pra isso que viemos ao mundo? Viver para morrer? Alguns apenas decidem parar de enrolar, parar de acordar cedo, tomar banho, comer, pagar o aluguel. Alguns decidem o fim. Sortudo é aquele que sabe escolher o fim.

Ex-presidiário, ex-cristão, ex-traordinário, ex-querda. A gente só entende o sentido quando muda a direção, quando anda ao contrário. Se for pra ser livre, só sendo preso pra entender a liberdade. Se é pra abnegar-se dos pecados, só pecando pra receber o perdão. Pra alcançar o extraordinário, é preciso ser ordinário. Pra chegar do lado esquerdo, tem que passar pelo direito. É tudo assim: dual – com dois lados. Sim e não, bom e ruim, grande e pequeno, vida e morte.

É preciso perder pra dar valor, não é isso? Ele perdeu. Perdeu emprego, perdeu família, perdeu amigos, perdeu esperança, perdeu o equilíbrio, perdeu-se de si. É engraçado quando a pessoa só quer achar e só faz perder – a gente sabe que é sem querer. Mas de tanto negar o querer, acabou querendo. Ele quis parar de sorrir, parar de abraçar, parar de cantar, parar de se entregar, parar de se expor, parar de viver.

Sem teto, sem foda, sem santo, sem droga e, agora, sem vida. O Zé Ninguém, virou o Zé Suicida.